por Milton
L. Torres
Chegou
o ano novo, e nós chegamos com ele. Podíamos ter ficado pelo caminho, como
outros ficaram. Mas não ficamos! Aviões caíram, mas nós seguimos voando.
Estrelas se apagaram, mas nós seguimos brilhando. Vozes silenciaram, mas nós
seguimos cantando. Queridos adormeceram, mas nós seguimos acordados. E isso não
é mérito nosso. Se seguimos, é porque foi a nossa vez de receber misericórdia,
como no caso daquela tartaruguinha recém-nascida que, num ato de bondade
aleatória, um estranho lançou ao mar para fazê-la viver, crescer, experimentar
o sabor das ondas e se apaixonar pela vida e pelos vivos. Somos tartaruguinhas
recém-nascidas que faremos o que for preciso para continuar vivas no balanço
das ondas...
Só
que não! Se refletirmos bem, não será nem um estranho nem um ato aleatório de
bondade que nos impelirão a boiar e nadar e dar braçadas enérgicas nos
primeiros minutos do ano de 2017. Será o nosso Amigo, Aquele que nos conhece
muito bem. Ele gosta de fazer isso. É o Seu costume. Passa o réveillon na praia, tentando salvar o
máximo possível de tartaruguinhas enrugadas e míopes. Algumas nem se dão conta
de que são salvas, mas é Ele que as salva, todas elas, todos nós. Podemos até
não lhe sentir o abraço protetor, as mãos firmes e ternas, mas é sempre Ele que
nos impele. Estamos aqui hoje porque Ele nos escolheu. E, se Ele nos escolheu,
é porque tem fé em nós! Ele sabe que, neste novo ano de 2017, podemos fazer a
diferença na vida dos outros, como Ele faz a diferença em nossa vida. Ele sabe
que nossa tendência é nos recolher à segurança do nosso casco, nos acomodar aos
passos lentos com que nos deslocamos de um lado para o outro e sucumbir à
miopia que praticamente nos obriga a enxergar apenas o que nos está diante do
nariz e, às vezes, nem isso.
Ele sabe. E, por isso, Ele nos oferece a
metáfora de um ano novo, que, na verdade, não é nada diferente do ano que
acabou. Os dias são os mesmos 365, os meses são os mesmos 12, as semanas são as
mesmas 52! As febres são as mesmas, as fomes são as mesmas, o cansaço é o
mesmo, o trabalho é o mesmo, a casa é a mesma, a família é a mesma, até o corpo
é o mesmo! Mas é porque o nosso Deus também é o mesmo, que a metáfora vale. É
um novo princípio, uma nova chance: a nossa oportunidade! No dia da nossa
alegria, no dia da nossa comemoração, no início dos nossos meses, devemos tocar
a trombeta e nos lembrar do Senhor (Nm 10:10). No início do nosso ano, devemos
tocar a trombeta e nos lembrar do Senhor. No primeiro dia do resto da nossa
vida, devemos tocar a trombeta e nos lembrar do Senhor.
Fomos escolhidos! Estamos escalados para mais
um ano. Quer você se sinta como a tartaruga enrugada e míope da minha analogia,
ou melhor, ou pior, ainda pode sair em direção às ondas, ainda pode escolher o
mar, ainda pode escolher a vida, ainda pode decidir hoje que, em 2017, você não
vai desistir, que você será mais feliz, mesmo que as condições sejam até mais desfavoráveis.
Com um sorriso nos lábios, eu o convido a tomar a trombeta e fazer com que ela
soe alto. Eu o convido a se lembrar. Eu o convido a recordar os momentos
felizes da vida: o primeiro passo, o primeiro passeio de bicicleta, o primeiro
beijo, a primeira volta no automóvel, a primeira vez, a primeira braçada no
mar... Eu o convido a querer tudo de novo: um novo passo, um novo passeio de
bicicleta, um novo beijo, uma nova volta no automóvel, uma nova vez, uma nova
braçada no mar, um novo ano! Eu o convido a tocar a trombeta!