por Milton L.
Torres
Pare e pense! Não vale
a pena se preocupar demais em entender a vida. Não vale a pena quebrar a cabeça
para compreender todos os seus intrincados mistérios. Carlos Drummond de
Andrade diz que, em vez disso, se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável)
da vida. Isso significa que temos que nos contentar com uma dessas
possibilidades: ou desvendamos mistérios ou sentimos a poesia. Satisfazemos a
curiosidade ou a sensibilidade. Vivemos em função do cérebro ou do coração.
Isso não significa que
os mistérios não nos possam intrigar, só que não precisam nos deter, nem nos
imobilizar. Diante deles, o queixo cai, mas os olhos precisam imediatamente
contemplar o efeito estético de sua presença. Aí, a gente precisa voltar a viver,
voltar a sentir. Um exemplo prático disso acontece quando nos deparamos com a
morte, especialmente se ocorre de modo repentino, prematuro ou com uma pessoa por
quem temos muita afeição. O mais importante, nessa hora, não é receber
explicações, entender a cadeia de causalidades que precipitou a tragédia, mas
refletir sobre a beleza da vida de quem se foi. Não se trata tanto de entender
o significado dessa vida, mas sua significância. As pessoas tendem a se indagar
por que Deus permite essas coisas, mas a pergunta que faz mais sentido é como
essa vida que se foi enriqueceu a vida de quem fica. O que precisamos fazer, em
meio às lágrimas da despedida, é celebrar a ventura de ter convivido com aquela
pessoa.
Mas não é apenas a
morte que representa, para nós, um enigma difícil de decifrar. O que dizer do
amor não correspondido? Por que o coração, os olhos, o corpo todo nos dispõem para
uma alma da qual nos sentimos gêmeos, só para que esta nos inflija rejeição e
constrangimento? O que dizer da paternidade? Por que alguns filhos se parecem
tanto com os pais, enquanto outros lhes são diametralmente opostos? Quem
inventou essa química? Que gênio maldoso se encarregou de rodar essa roleta
maluca?
É melhor desistir
dessa álgebra improvável. A teoria do caos está criptografada no próprio pulsar
da vida. Em vez de quebrar a cabeça e o coração, é preferível quebrar os
preconceitos, assumir atitude de apreciador da arte de viver, aceitar que não há só um jeito de ser feliz,
abrir o coração e os olhos para as possibilidades e, finalmente, não se deixar
possuir por nenhuma única grande e insubstituível ideia. Em vez de se obcecar
pela solução da vida, busque enxergar a poesia da vida…