tag:blogger.com,1999:blog-94633422024-02-28T11:11:37.715-08:00refrigeriumMiltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.comBlogger110125tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-89908002082748449322020-12-14T07:53:00.000-08:002020-12-14T07:53:19.757-08:00Discurso de Formatura (Cursos de Letras e Tradutor & Intérprete, Classe de 2020)<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">por Milton L.
Torres<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">Chegamos a um
momento decisivo de nossa vida. Um ano de formatura. Um ano de pandemia. Um ano
de afastamento. Um ano perdido? Não. Eu passei este ano escrevendo poesia, pois
este foi um ano de sentimentos, intenso talvez como nenhum outro dos três,
quatro anos que vocês passaram nesta Instituição. Separados pela parede erigida
na tela do computador, às vezes eu tocava os tijolos duros e secos na esperança
de me sentir mais próximo de vocês. A separação mais inafável da história do
UNASP, longa, demorada, interminável, sufocante. Mas vocês resistiram a ela com
bravura e serenidade.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">Cinco
explicações do que significa a sua formatura para nós professores do UNASP<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">1. Para nós,
formar-se significa entrar em forma e vocês entraram em forma, senão física,
pelo menos social, intelectual e espiritualmente.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">2. Formar-se
significa adquirir resiliência. Isso quer dizer que, se alguém ou alguma coisa
quebrar o seu coração, vocês sempre serão capazes de reconstituí-lo numa forma
ainda melhor: mais humano, mais tolerante, mais sábio, mais decidido e,
especialmente, mais amoroso.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">3. Formar-se
significa que a história de sua vida está assumindo uma forma: uma forma de
sucesso, uma forma de narrativa; não é mais só uma promessa, agora é um enredo
completo do qual vocês são os protagonistas, heróis e heroínas.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">4. Formar-se
significa ser capaz de moldar o seu espaço no mundo, na academia, no mercado,
na vida. Algumas pessoas são capazes de prever o futuro. Vocês agora farão
muito mais do que prever. Vocês serão capazes de moldar o futuro, criando um
devir muito mais justo e acolhedor para todos nós.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">5. Formar-se
significa que vocês criaram uma forma geométrica em nossa vida: um círculo ou
um cubo que estará doravante sempre vazio, a não ser quando vocês nos visitarem
e sua forma preencher o vazio que vocês deixam no UNASP e no nosso coração. E
não pensem que alguém que chegue conseguirá preencher esse espaço cardial que
lhes pertence de agora em diante e para todo sempre. Temos muito orgulho de
vocês!<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">Não gosto de
comparar gerações: X, Y, Z. Tudo isso não passa de uma confusão de letras com a
qual os que se arrogam o direito de arquitetar o nosso futuro tentam nos
impressionar e, por isso, eu lhes peço: não se deixem definir por uma letra.
Não acreditem quando estranhos, atrás de uma tela de computador, lhe digam que
vocês são isso ou aquilo. Creiam apenas naqueles que lhes olham nos olhos.
Creiam em seus pais, familiares e amigos. Creiam em mim! Sua formatura em meio
à pandemia foi o desafio supremo que vocês superaram para provar o valor de sua
geração: o sangue frio, a determinação, a resiliência. Nenhuma letra pode
recuperar essas qualidades. Nenhuma letra pode lhes fazer justiça. Vocês são
muito mais do que um apêndice no final do alfabeto. Além disso, vocês não são
réplicas fotocopiadas uns dos outros. Cada um de vocês é um tipo diferente de
ser humano: espantoso, surpreendente, irresistível.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">Neste ano de
pandemia, eu não fiquei só escrevendo poesia. Eu também li muita poesia. Eu,
por exemplo, li toda a antologia poética de Cecília Meireles, graças ao fato de
que o Prof. Davi Oliveira me legou alguns de seus livros, os melhores, que
agora estão orgulhosamente acomodados na minha biblioteca. Nesses livros, eu
escrevi o meu nome logo abaixo do dele. Foi nessa leitura que descobri que
Cecília Meireles tem um poema intitulado “Estudantes”. O poema não é todo bom,
pois acontece, às vezes, que a inspiração vem de modo desigual. Mas considero
instigantes os últimos versos. De fato, pensei em vocês quando os li:<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">nas mãos, com
ideogramas de dança,</p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">levantam
cadernos, esquadros,</p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">num bailado
novo:</p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">e medem a vida</p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">e descrevem o
universo.</p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">Que mundo
construirão?</p></blockquote></blockquote><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p><p>
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 11.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Obviamente, vocês não mais carregam cadernos e
esquadros. Hoje vocês levam celular e mochila. Mas os ideogramas de dança são
os mesmos, o bailado continua novo e vocês continuam medindo a vida e
descrevendo o universo. Eu não sei exatamente o que Cecília Meireles quis dizer
com esses versos. Tenho algumas ideias, mas não tenho nenhuma certeza
definitiva quanto aos seus significados. Porém, eu sei o que eu quero dizer
quando elejo esses mesmos versos como desculpa para abrir o coração para vocês,
aqui, diante de tantas pessoas conhecidas e desconhecidas. Os ideogramas de
dança e o bailado novo representam o modo como vocês são capazes de criar um
ambiente festivo nesta escola e na nossa vida. Eu tenho pena dos professores
cuja única experiência se resume à comunicação tele-apática das aulas
síncronas. Eles nunca vão saborear o elemento festivo que sua presença cria
diante dos nossos olhos arregalados e de nosso rosto boquiaberto: a luz, o
brilho, a vida, o amor. Esses elementos festivos que vocês acrescentaram à
minha vida nestes últimos três ou quatro anos me deram coragem para continuar
vivendo e enfrentando os obstáculos que arrastam a educação para horizontes
cada vez mais distantes do ideal primitivo da verdadeira formação humana. Assim
como chegou a vez do Prof. Davi, de quem vocês foram a última turma, e da Prof.
Sônia Mastrocola e da Profa. Tânia Siqueira e da Profa. Ana Schäffer e do Prof.
Joubert Perez, desejo que, quando chegar a minha vez, eu tenha a fortuna de me
despedir de uma turma que tenha uma noção ao menos pálida do afeto, respeito e
consideração com os quais vocês brindaram os educadores que passaram por seu
caminho nestes anos de convívio. Nós podemos ter-lhes ensinado as letras, os
sons, as traduções, essas bagatelas com que tentamos impressioná-los nas nossas
aulas, mas vocês nos impressionaram muito mais com seus olhinhos atentos e
brilhantes, sua ingenuidade nem sempre delicada, sua docilidade inesperada, sua
espontaneidade e irreversível flexibilidade diante dos problemas e desafios, sua
capacidade de construir portas, saídas, esconderijos, pontos de encontro, naves
espaciais, jardins floridos e mil e duzentos outros elixires e poções
tonificantes. Sim, sua capacidade de construir o que não conseguimos mais.
Cecília Meireles, no último verso de seu poema, indagou: “Que mundo
construirão?” Eu não tenho a menor ideia... Eu não sei que mundo é esse que
vocês vão construir... Mas de uma coisa eu sei: se forem vocês as construtoras
e os construtores, se vocês estiverem nesse mundo, eu também quero estar nele.
Vocês são o que há de melhor no mundo de hoje e, se forem vocês a construírem o
mundo de amanhã, os ideogramas da nossa dança continuarão empolgantes, o nosso
bailado vai continuar novo e vamos continuar medindo a vida pelo ritmo universal
do coração. Agradeço a Deus por vocês fazerem parte de nossa vida e peço a Ele
que os conduza na jornada que vocês estão prestes a iniciar, pois hoje não é um
fim, nem mesmo um final feliz. Hoje é um início, um início feliz!</span></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-32929706053524547672020-05-21T07:41:00.002-07:002020-05-21T07:41:40.324-07:00Oração pelos Hóspedes do CEVISA<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">por Milton L. Torres<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">(Inspirada na oração feita por Tina
Fey, em <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Bossypants</b>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #181818; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em primeiro lugar, Senhor, peço que lhes conceda a ternura de
Jesus, para enfrentar a vida, a convivência com as pessoas, o trabalho, a
doença, o amor, as tragédias, o sucesso, e tudo o mais que acontecer com eles
ou ao redor deles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #181818; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Peço, então, Senhor, que os <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>guies</u></b>
e <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>protejas</u></b>: ao cruzar a rua,
embarcar em qualquer meio de transporte (principalmente o metrô), nadar no mar,
lagoas, rios, piscinas e até em poças d’água, ao atravessar a Avenida Paulista
(ou qualquer outra), ao usar o banheiro do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">shopping</i>,
ao subir ou descer da escada rolante, ao dirigir em estradas desertas, ao
encostar nas coisas (especialmente as de vidro, as cheias de graxa, ou que
contenham azeite fervendo), ao caminhar em estacionamentos vazios, andar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ferry-boat</i>, montanhas russas, tobogãs ou
toboáguas, e em qualquer outra atração dos parques de diversão ou da vida, ao
olhar de cima da sacada, para qualquer direção, em qualquer lugar ou em
qualquer época!<br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br style="mso-special-character: line-break;" />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #181818; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Livra-os, Senhor, da profissão errada. Não deixes que sejam
atores, cantores, nem políticos! Mas, se já o forem, sustenta os primeiros e
perdoa os outros! Porém, que ninguém que aqui se hospede se preocupe demais com
o dinheiro, mesmo porque não é barato! Concede-lhes, bom Deus, um trabalho que
lhes proporcione realização sem fazer com que adoeçam e morram. E um pedido
especial: livra as mulheres dos saltos altos e os homens do paletó e gravata!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #181818; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Que o coração desses hóspedes tiquetaqueie seguindo o ritmo do
Teu próprio coração. Dá-lhes o tutano e a força dos Teus próprios braços. Ó
Senhor, que eles nunca encontrem o sinal do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">wi-fi</i>
e que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">internet</i> nunca seja sua maior
prioridade! Mas, se por um acaso, conseguirem se conectar, que não seja para
ouvir ou espalhar comentários racistas, cheios de ódio e preconceituosos. <br />
<br />
E, Senhor, se um dia decidirem ser pais ou mães, dá-lhes a Tua visão e
paciência para que saibam amar os filhos e filhas assim como Tu nos amas a
todos e nos perdoas de tudo, até do imperdoável! E àqueles que já são pais e
mães, Senhor, dá-lhes a resignação de amar sem exigências, de sofrer sem se desesperar,
de orar, com todo fervor e a maior devoção, pelos filhos queridos, mesmo quando
não o merecem e, especialmente, quando não o merecem.<br />
<br />
Àqueles que ainda buscam uma cara metade, que não lhes seja custoso
encontrá-la! Que possa vir cedo em sua vida, para que sempre saibam, sintam e
todo dia se surpreendam, do fundo do coração, que amam alguém e que também são
amados. Aos que já encontraram essa pessoa arrebatadora com a qual dividir a
vida, que não se esqueçam, sequer por um momento, de que o amor é maravilhoso e
de que nada pode se comparar com o afeto genuíno de quem está ao nosso lado e,
principalmente, do nosso lado, para o que der e vier, até para o que nunca deu
ou virá, sem condições, sem hesitação e sem arrependimentos, a não ser o de
hoje, o desta hora, que possa ser facilmente redimido com um afago.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #181818; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Senhor, dá-lhes saúde e uma vida longa, cheia de momentos
felizes e sorrisos sinceros, cheia de olhares cúmplices e admirados,
imaginativa além da imaginação, sonhadora além dos sonhos mais impossíveis,
feliz além da felicidade. E, quando chegar a pior hora de todas, que a mão seja
firme; o olhar, resoluto; a mente, lúcida; o coração, forte! Que o fim seja um
mero começo, banhado em lágrimas de saudade e esperança! </span><span lang="EN-US" style="color: #181818; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Amém!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-5358618533445241622020-05-21T07:37:00.003-07:002020-05-21T07:37:39.731-07:00Bolas de Golfepor Milton L. Torres<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Entre
1998 e o ano 2000, eu morei em frente a um campo de golfe. Isso me deu a
oportunidade de catar várias bolas de golfe que teimavam em se extraviar de seu
destino pretendido e pousavam no meu quintal como aves cansadas. Nem sempre
aqueles que as lançavam naquela direção vinham reclamá-las. Talvez pensassem
que não valia a pena atravessar a rua movimentada para tentar recuperar o que
haviam perdido. As bolas de golfe variavam em cores, principalmente brancas,
vermelhas e amarelas, mas eram de tamanho uniforme, pois aquilo podia acontecer
com qualquer uma. Algumas se perdiam em seu primeiro voo e pareciam
imaculadamente perfeitas. Outras traziam as marcas das tacadas da vida e
apresentavam pequenas deformações. Ainda outras vinham manchadas ou sujas. Além
disso, em geral, continham um número, de zero a cinco.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Eu
nunca me interessei pelo golfe e confesso que não compreendo a razão dos
números, das cores e outras características peculiares às minhas amigas
esféricas. Apesar disso, eu guardei aquelas bolas de golfe e elas me acompanham
há quase 20 anos. Conservo-as em casa, em um balaio de vime, que vem resistindo
bem à passagem do tempo. Nem sei explicar exatamente por que conservo essas
lembranças de um tempo que veio e se foi. Não sofro de nenhuma nostalgia
inexplicável por não mais morar em frente ao campo de golfe e sua paisagem
sedativa.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
O
que sei é que esses globos em miniatura passaram a fazer parte da minha vida e
que, toda vez que olho para eles, me ensinam a mesma lição: os relacionamentos
são esféricos e sem alças. Não há como nos apegarmos a eles pela bruta força de
mãos e braços. Em sua circularidade quase perfeita, os relacionamentos nos exigem
investimentos cíclicos e recorrentes. Como as bolas de golfe, lançamos nossas
emoções em vários sentidos e direções. Como resultado dessa audácia, essas
emoções e os relacionamentos aos quais se filiam acabam se comportando como as
pelotas coloridas do meu balaio de vime. Ao sofrerem as tacadas da vida, em seu
voo primeiro ou enésimo, acabam sujas, manchadas, deformadas. Extraviam-se e se
perdem. Para recuperá-las, é necessário transpor não apenas uma rua
movimentada, mas o fosso profundo que se interpõe entre nós e as pessoas amadas
ou toleradas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Nunca
tentei consertar as bolas de golfe do meu balaio de vime. Mas não acho que seja
possível desentortá-las, nem lhes eliminar as manchas. O máximo que fiz foi
lavá-las para conservá-las limpas e apresentáveis, uma espécie de maquiagem
postiça a fim de atenuar as cicatrizes profundas de golpes e colisões. No final
das contas, após anos e anos de convivência com os equívocos redondos de meus
relacionamentos, esse balaio de gatos em que se transformou o meu coração,
concluí que é inevitável sofrer com marcas e manchas. Descobri, porém, que há
uma razão existencial por que as bolas de golfe são numeradas. Esses números
sugerem nossas prioridades. A prioridade “zero” são os relacionamentos efêmeros
aos quais nunca deveríamos dar o poder de nos magoar. A prioridade “cinco” são
os relacionamentos periféricos, insignificantes, que não conseguiriam nos
magoar mesmo que tentassem. A prioridade “dois” são os relacionamentos
secundários, que não são importantes o bastante para requerer sacrifícios e
esforços múltiplos de manutenção. Entretanto, há a prioridade “um”, aqueles
relacionamentos sem os quais seria impossível continuar a vida como a
conhecemos e desejamos. No caso dessas bolas de golfe número 1, por elas vale a
pena atravessar a movimentada rua do tempo, em que um calendário autoritário ou
um relógio arrogante, como automóveis desgovernados, nos ameaçam os gestos e as
afeições. Por elas, vale a pena cruzar o fosso das mágoas, por mais profundo
que seja. Vale a pena correr todos os riscos, inclusive o da vulnerabilidade. Vale
a pena fazer sacrifícios e imolações, apesar das manchas e cicatrizes. Vale a
pena recuperá-las para impedir que vão parar em um balaio de vime, em um canto
qualquer e, em vez disto, acomodá-las majestosa e intencionalmente no trono do
nosso coração, à vista de todos, à vista de Deus.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-72916859495723113442020-01-06T05:04:00.000-08:002020-01-06T05:04:05.551-08:00Carta a mim mesmo, direto da cápsula do tempo<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR">Último dia do ano 2014 de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Carta a mim mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<span lang="PT-BR" style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 11.0pt; line-height: 115%;"> Este
é um lembrete, na passagem de ano, de que meio século de existência pode me
tornar mais forte do que o tempo, a gravidade, a decrepitude e outras forças implacáveis
que corroem o vigor físico, o ritmo cardíaco da vida e a agilidade mental. Tento
me convencer de que preciso apenas da atitude certa: a de reconhecer, nas
pequenas coisas, que não é a duração da vida que me faz feliz. Ao contrário
disso, é a felicidade que me dá vida. E como não ser feliz? Eu posso até deter
o tempo, por alguns minutos, com a simples lembrança das coisas formidáveis que me
sucederam: as viagens, quer aquelas empreendidas nos meios convencionais de
transporte, quer as da minha imaginação, que me levou mais longe e mais rápido
do que qualquer foguete que já existiu ou existirá. Os livros (de capa a capa),
os poemas (de Homero, Bukowski), as línguas (principalmente o grego),
essa fortuna que eu ajuntei por uma bagatela. Eu posso superar o peso da gravidade
com a leveza de um coração aberto, sensível, esperançoso... Diálogos, conversas
ao telefone, emails recebidos e armazenados em uma pasta intitulada “mensagens
memoráveis”. Posso rejuvenescer com a recordação de beijos, abraços e cópulas,
e com a expectativa de mais beijos, abraços e cópulas. Além disso, com uma
experiência que nunca consegui decifrar, nem no todo nem em parte: a conexão
cerebral, visceral entre professor e aluno. Venço a morte, a cada dia, com a
lembrança desses prazeres ingênuos, o quarto gol já no final do segundo tempo;
a prece desinteressada em favor do outro; os pequenos sacrifícios; os afagos
incondicionais de um cãozinho que, no que diz respeito aos demais seres do
planeta, não passa de uma criatura mal-humorada e tão indiferente quanto um
gato, mas que se desmancha de satisfação ao som de minha voz; a alegria na
realização dos filhos, sobrinhos, parentes próximos e distantes; os encontros
inesperados; letra e música; vislumbres do futuro e, principalmente, do
passado; aspirações... Não há, então, motivos para estar triste, mesmo no
último dia do ano, mesmo aos 52 anos de idade.</span><br />
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<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-20560222064241652122020-01-06T04:56:00.000-08:002020-01-06T04:56:02.267-08:00Carta aos filhos, direto da cápsula do tempo<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR">Último dia do ano 2014 de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Carta aos filhos, sendo um deles casado e a outra solteira, estando
ambos no começo de sua vida adulta e independente ou a ponto de iniciá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR"> Não
escolho a música ao som da qual vocês dançam. Não mais. Não escrevo o roteiro
de suas histórias nem o itinerário de suas viagens. Nunca o fiz; apenas
ensaiava fazê-lo. Vocês estão agora à mercê das próprias escolhas. A
responsabilidade de cada decisão é, agora, inteiramente sua, com uma pequena
pitada do tempero que adicionamos ou deixamos de adicionar à sopa de suas
vidas. Até aqui, vocês foram perfeitamente imperfeitos – e nunca o teríamos
desejado de outra forma: autênticos, autônomos, audaciosos. Ainda assim, em
todas as situações, conviver com vocês foi como estar às margens de um lago
plácido, sem ondas, nem ventos, mas profundo, hipnótico, tranquilizador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR"> Poucas
vezes talvez se tenha escutado um pai dizer que tenha encontrado almas gêmeas
nos filhos, essa prerrogativa estando geralmente reservada aos grandes amores,
os romances que fazem o coração se apressar, dando-lhe a impressão de que o
tempo passa mais depressa do que gostaríamos, ou que tiram a força das pernas,
fazendo com que amoleçam sob o peso do desejo e da paixão. No entanto, em nosso
caso, os sentimentos são outros. É como se minha alma tivesse se fendido, uma
fração de virtudes e defeitos passando a cada um de vocês, numa imagem ou,
sequer isso, num reflexo. É como se vocês tivessem tomado essa figura grotesca
e tivessem soprado sobre ela uma espécie de purpurina espantosa, capaz de
redimir a caricatura e transformá-la em um quadro elegante. Vocês fizeram isso
com a minha vida e, por isso, eu lhes sou grato.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR">Outra pessoa, menos avisada das
coisas do coração, quem sabe interprete o fenômeno como um azar da
hereditariedade, um capricho dos cromossomos. Mas eu sei que não. Nenhuma
combinação genética em meus ascendentes, esses antepassados que vocês pouco ou
mal conheceram, poderia ter lhes legado um coração tão generoso, uma mente tão
lúcida, um senso de justiça impregnado de tão boas intenções, um desejo tão
ardente de existir ainda que simplesmente e uma atitude tão respeitosa para com
os mistérios humanos e divinos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT-BR">Vocês estão, hoje, onde deveriam
estar. Eu não teria ido mais longe e não estaria tão satisfeito se vocês
tivessem alterado, de forma mínima, seu percurso, acidental ou
intencionalmente. No entanto, algum imprevisto talvez atravesse, algum dia, o
seu caminho: uma decepção, um fracasso, uma indecisão, uma fraqueza ou
desespero. Se isso, por acaso, vier a acontecer, talvez eu não esteja presente
para lhes dizer o que direi agora. Portanto, lembrem-se bem, façam disso uma
recordação a ser guardada na caixa-forte de seu coração: seu sucesso como
pessoas, para os seus pais, depende menos do que vocês conseguirem conquistar
na vida e mais do que vocês conseguirem fazer um pelo outro, por seus filhos e
familiares, e pelos corações que Deus colocar ao alcance de seu toque. De
qualquer forma, não tenho receios: eu sei que vocês saberão o que fazer, mesmo
que eu não esteja lá para observá-los. Eu sei que vocês saberão o que fazer na
proporção mesma em que sabem que são amados. E isso eu posso garantir: vocês
são e sempre serão amados...<o:p></o:p></span></div>
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<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-24767942646097486742019-12-14T12:17:00.002-08:002019-12-14T12:17:41.368-08:00Discurso de Formatura Tradutor & Intérprete, Classe de 2019Caros alunos e alunas da turma de Tradutor & Intérprete de 2019, finalmente chegou o dia em que vocês receberão o merecido diploma, um pedacinho valioso de papel, a prova irrefutável de que vocês são determinados, disciplinados e brilhantes, talvez mais brilhantes e determinados do que disciplinados. Hoje é a sua formatura e, de certa forma, é a minha formatura também. Com o meu deslocamento para os programas de pós-graduação, eu acho que nunca mais me sentirei tão próximo de uma turma de Tradutor & Intérprete, quanto eu me sinto hoje de vocês. E sou grato a Deus porque são vocês as pessoas de quem tenho a oportunidade de me despedir. Eu sou grato a Deus porque são vocês as últimas pessoas a tomar lugar neste cantinho especial do meu coração que vem sendo povoado pelas pessoas mais afetuosas, incríveis e sem noção que eu já conheci. Na vida, como nas cerimônias de formatura, geralmente quem entra por último, se senta na primeira fileira; e vocês sempre estarão na primeira fileira do meu coração. Alguém aqui se lembra do que respondia quando tinha cinco anos de idade e as pessoas lhe perguntavam o que você queria ser quando crescesse? Algum de vocês dizia, naquela época, que queria ser tradutor e intérprete? Acho pouco provável. Naquela época, a Agricélia queria ser comissária de bordo, o que ela deseja ser até hoje; o Artur, piloto de avião; a Bruna, cabeleireira, que ela mal conseguia pronunciar; a Carol, atriz; o Danilo, veterinário; a Débora, sereia; o Denisson, bombeiro; a Emiily, viajante; o Gabriel Malta, entre outras coisas, professor; a Gabrielle, estilista (gente, como é que uma criança de 5 anos de idade sabia o que é isso???); o Jhoseyr, fazendeiro; a Jordana, professora, como a mãe; a Karol, veterinária; a Midori, cirurgiã de emergência, só para ver os corpos abertos; tudo o que a Paloma queria era aprender a falar inglês; a Rafaela, policial, só para usar farda como o tio; a Taila, médica; o Victor Hugo, policial; o Wilson, astronauta; e a Yanka, psicóloga, entre outras coisas. Bem, agora vocês cresceram e não viraram nada do que queriam ser. Pelo menos, não ainda. Entretanto, escolheram essa profissão que nos dá a ilusão de que somos todas essas coisas, porque o tradutor se mete em tudo, sabe de tudo e, quando a gente não sabe, a gente inventa tão bem, que ninguém sequer desconfia da nossa ignorância. Somos escritores, advogados, atores, intérpretes, inventores, mediadores, porta-vozes, entrevistadores, pregadores, legendistas, letristas, poetas, diplomatas, cuidadores, jornalistas, psicólogos, dubladores, atletas, professores, enfim, qualquer coisa para a qual nos deem cinco segundos de preparo prévio. E fazemos isso sem perder a pose. Como intérprete, já assisti em um parto, já prestei cuidados de emergência, já ajudei a engessar um braço, já visitei uma prisão de segurança máxima, já viajei o mundo e, mais recentemente, dramática e espetacularmente me joguei no chão no palco de um estádio na frente de nove mil espectadores. Então, eu sei que vocês estão entre os poucos aqui presentes que podem dizer que realizaram o seu sonho de infância. E não só o sonho de virar estilista, veterinário, psicólogo, médico, policial e bombeiro, mas muitas outras coisas. Vocês vão traduzir bulas de remédio melhor do que os farmacêuticos, vão traduzir manuais técnicos melhor do que os engenheiros, vão traduzir patentes melhor do que os inventores, vão traduzir a vida melhor do que ninguém. Só a sua presença vai acalmar as pessoas, dando-lhes a sensação de conforto e segurança, senão a todas as pessoas, pelo menos àquelas que mais precisam dessa sensação. Apesar, porém, de todas essas possibilidades e do brilho glamoroso, inofuscável, da profissão que vocês escolheram e na qual se graduam hoje, o que mais me enche de encanto e admiração, o que me faz o coração bater aos saltos neste momento de emoção é que, no seu dia-a-dia, vocês não serão simplesmente atores, intérpretes, mediadores, advogados, e todos esses papéis de astros que vocês vão assumir na imaginação e na prática tradutória, vocês serão muito mais do que isso. Vocês serão Agricélia, Artur, Bruna, Carol, Danilo, Débora, Denisson, Emiily, Gabriel, Gabrielle, Jhoseyr, Jordana, Karol, Midori, Paloma, Rafaela, Taila, Victor Hugo, Wilson e Yanka, essas pessoas extraordinárias que sempre vão encher a minha memória de recordações inesquecíveis, cuja falta será sentida por cada professor, árvore, prédio, sala e carteira deste campus. Podem partir em paz, pois vocês vão acompanhados de nossas preces e de nosso eterno carinho.Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-10065789871469396222019-11-13T13:31:00.000-08:002019-11-13T13:33:08.431-08:00My First Goose (“Meu Primeiro Ganso”) por Isaac Babel<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: center;">
<span lang="PT-BR">Traduzido para o inglês
por Peter Constantine<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: center;">
<span lang="PT-BR">Traduzido para o
português pelos alunos do curso de Tradutor e Intérprete do UNASP<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: center;">
<span lang="PT-BR">sob a supervisão do
Prof. Milton L. Torres<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Savitsky, o
comandante da sexta divisão, se levantou, </span><span style="text-indent: 0.5in;">quando me viu,</span><span style="text-indent: 0.5in;"> e eu fiquei espantado
pela imponência de seu corpo gigantesco. Ele se levantou, com suas bombachas
roxas que dividiam a cabana em duas assim como uma bandeira divide o céu; a
boina carmesim estava inclinada para o lado e as medalhas pregadas no peito.
Exalava perfume e um enjoativo frescor de sabão. Suas pernas compridas se
assemelhavam a duas garotas coladas uma na outra pelos ombros com botas de
montaria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">Ele sorriu para
mim, bateu com o chicote na mesa e pegou o memorando que o chefe da repartição
havia escrito. Era um pedido para Ivan Chesnokov avançar para
Chugnov-Dobryvodka com o regimento sob seu comando e, quando encontrasse o
inimigo, o destruísse imediatamente. "Por essa destruição", Savitsky
começou a escrever, enchendo toda a folha, "considero o próprio Chesnokov
o completo responsável. Seu descumprimento vai implicar nas medidas punitivas
mais severas; em outras palavras, vou lhe dar um tiro ali mesmo. Desse fato,
camarada Chesnokov, tenho certeza que você não vai duvidar, já que faz bastante
tempo que você trabalha comigo na linha de frente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">O comandante da
Sexta Divisão assinou a ordem com um floreio, jogou-a para o ordenança e voltou
os olhos acinzentados para mim, que dançavam de alegria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Entreguei-lhe o documento referente a
minha transferência para a repartição daquela divisão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">“Cuide da
papelada!” disse o comandante da divisão. “Cuide da papelada e certifique-se de
que esse homem se voluntarie para todas as diversões, exceto as do tipo
frontal. Você sabe ler e escrever?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">"Sei",
respondi, morrendo de inveja da força e do vigor da sua juventude. "Eu me
formei em direito na Universidade de Petersburgo." "Então você é um
daqueles almofadinhas!", ele gritou com uma gargalhada. "Com óculos
no nariz! Ah, sua criatura miserável! Eles mandam essa gente para cá e nem
perguntam se queremos! Aqui você leva porrada só de usar óculos! Então, você
acha que pode viver com a gente, ein?" "Sim, acho", respondi e
fui à vila com o intendente a fim de procurar um lugar para ficar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">O intendente carregava a minha maleta
nos ombros. A rua da vila estava diante de nós, e o sol poente, redondo e
amarelo como uma abóbora, dava seu último fôlego rosado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">Chegamos a uma barraca com guirlandas
pintadas. O intendente parou e, de repente, sorrindo com culpa, disse: “Cara, a
gente detesta óculos aqui! Não há nada que você possa fazer!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Aqui eles comem
vivo um homem de muitos títulos, mas se você viola uma moça, a mais purinha, aí
sim, você vira o cara, para os soldados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">Ele hesitou por
um momento, com a minha maleta ainda nos ombros, chegou bem perto de mim. De
repente, afastou-se em desespero, correndo ao quintal mais próximo. E lá
estavam os Cossacos sentados nos feixes de feno, barbeando uns aos outros.
“Soldados!” O intendente falou, colocando a maleta no chão. “De acordo com a
ordem dada pelo camarada Savitsky, vocês são obrigados a aceitar que este homem
se aloje com vocês. E nada de brincadeira, por favor, porque este homem já
sofreu muito nas batalhas acadêmicas.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">O intendente corou e saiu marchando
sem olhar para trás. Bati continência para os Cossacos. Um loiro cabeludo com a
cara linda e típica de Ryazan, foi até minha maleta e a jogou na rua. Então,
ele virou as costas para mim e, com uma destreza fora do comum, começou a falar
palavrões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">"Calibre zero-zero!" Um
velho cossaco gritou, rindo bem alto. "Disparou rapidinho!"</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">O jovem foi
embora depois de gastar suas artimanhas limitadas. Eu me agachei e comecei a
juntar os manuscritos e as roupas velhas e puídas que haviam caído da maleta.
Eu juntei tudo e levei para o outro lado do pátio. Uma grande panela de
ensopado de porco estava em cima de tijolo na frente da choupana. Subia uma
fumaça que parecia a fumaça de uma choupana de uma daquelas vilas que a gente
viu na infância. A fome se misturava com uma intensa solidão em mim. Eu cobri a
minha pequena maleta rasgada com feno. Fiz dela um travesseiro, e me deitei no
chão para ler o discurso de Lênin no segundo congresso do comitê, que tinha
saído no <b>Pravda</b>. O sol se pôs sobre mim entre as colinas irregulares. Os
cossacos ficavam pulando as minhas pernas. Aquele rapaz caçoava de mim o tempo
todo. A pronta resposta lutava para me alcançar por caminhos tortuosos, mas não
conseguia. Coloquei o jornal de lado e fui até a dona da casa, que estava fiando
na varanda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">"Dona", eu disse, "eu
preciso de um rango".</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">A velha levantou as escleras
lacrimejantes dos olhos quase cegos para mim e abaixou novamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">"Camarada", ela disse,
depois de um curto silêncio. "Isso tudo só me dá vontade de me
enforcar!"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">Maldição!
Murmurei frustrado e lhe dei um empurrão nas costas com a mão. “Eu não estou no
clima para discussão!” Eu me virei e vi, por perto, o sabre de alguém. Um ganso
altivo andava a passos largos pelo quintal, arrumando placidamente suas penas.
Eu peguei o ganso e pisei nele. A cabeça estralou sob minha bota, quebrada e
sangrando. O pescoço branco ficou estirado na terra e as asas se dobraram sobre
o pássaro abatido.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">"Maldição!" Eu disse,
cutucando o ganso com um graveto. "Vá assá-lo pra mim, dona."</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">A cegueira e os óculos da velha
brilharam na luz, e ela pegou o pássaro, enrolou-o com o avental e o levou até
a cozinha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">“Camarada,” ela
disse depois de um momento de silêncio. “Isso me dá vontade de me enforcar.” E
bateu a porta quando entrou. No quintal, os cossacos já estavam sentados ao
redor da panela. Eles estavam estáticos, sentados eretos como sacerdotes
pagãos, sem sequer ter dado uma única olhada para o ganso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-align: justify; text-indent: 0.5in;">“Esse camarada
vai se dar muito bem aqui”, disse um deles, piscou e pegou um pouco de sopa de
repolho com a colher. Os cossacos começaram a comer com a graça contida de um
grupo de fazendeiros respeitosos. Eu limpei a espada com a areia, saí do pátio,
mas logo voltei, me sentindo angustiado. A lua enfeitava o quintal como uma bijuteria.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">"Ei, irmão!" Surovkov, o
mais velho dos cossacos, me disse de repente. "Sente-se conosco e coma um
pouco disso até que seu ganso fique pronto!"</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">Ele pegou uma colher extra da sua
bota e a entregou para mim. Engolimos ruidosamente a sopa de repolho e comemos
a carne de porco.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">"Então, o que eles estão
escrevendo no jornal?", o jovem camarada de cabelos louros me perguntou e
se afastou para abrir espaço para mim. </span><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span><span style="text-indent: 0.5in;">"No jornal, Lênin escreve",
eu disse, pegando meu </span><b style="text-indent: 0.5in;">Pravda</b><span style="text-indent: 0.5in;">, "Lênin escreve que agora há uma
escassez geral."</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">Eu falava tão alto, que parecia
surdo. Lia, triunfante, o discurso de Lênin para os Cossacos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Mas a noite me envolveu na umidade
macia de seus lençóis de crepúsculo, e colocou as mãos maternais em minha
fronte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Fiquei feliz, ao terminar de ler,
esperando algum efeito. Eu me deliciava com a misteriosa curva da linha reta de
Lênin.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span style="text-indent: 0.5in;">"A mentira tem pernas
curtas," Surovkov falou quando terminei. "Não é tão fácil tirar
qualquer verdade dessa pilha de bobagens, mas Lênin saca logo de primeira.
Parece uma galinha pegando o grão de milho."</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Foi o que Surovkov, comandante do
esquadrão, disse sobre Lênin e, depois, fomos dormir no palheiro. Seis de nós
dormimos ali, aquecendo-nos uns nos outros, nossas pernas emaranhadas, sob os
buracos do telhado que deixavam entrar as estrelas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-indent: .5in;">
<span lang="PT-BR">Sonhei e vi mulheres nos meus sonhos.
Só que meu coração, vermelho de morte, gritava e sangrava.<o:p></o:p></span></div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-91106153233618870322019-04-24T04:02:00.001-07:002019-04-24T04:06:29.973-07:00Sônia<div style="text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<br />
Como é que eu posso definir a Sônia? A tempestade? A bonança antes da tempestade? O tufão que passa pela vida da gente e não deixa nada no lugar? O vento que sopra suave e nos acaricia o rosto e o coração? Não, ela não era bipolar. De jeito nenhum. Ela era multipolar, pois conseguia assumir vários papéis e funções ao mesmo tempo. Ela conseguia explodir com um e, na mesma hora, virar para o outro com a iluminação de um sorriso franco, acolhedor, transformador. Capaz de arrancar o próprio coração para nos deixar felizes, era também capaz de nos arrancar o coração se a decepcionássemos. Mas, então, depois de alguns minutos, ela nos devolvia o coração amarrado em papel de embrulho da melhor qualidade e um laço vermelho da cor de sua paixão. Junto vinha um bombom, adocicado com os melhores recheios e aromas. Nenhuma relação com a Sônia era simples. Não podia ser, pois ela, no fundo, já sabia o que nos deixaria felizes e não admitia que nossos planos não concordassem com os dela. Eu a comparo a Cassandra, a princesa troiana que tinha o dom da premonição e era capaz de entender e prever as guinadas que aconteceriam na vida das pessoas, mas tinha a desventura de nunca conseguir convencer essas pessoas a seguirem suas advertências e conselhos. Advertências e conselhos tão bons e proveitosos que, se fossem seguidos, levariam à vida perfeita e feliz. A Sônia sabia dessas coisas. Ela já tinha tudo planejado para a vida de cada um de nós, que estávamos mais próximos de sua influência. Já sabia onde moraríamos, de que dentes trataríamos, com quem os solteiros se casariam, onde os estudantes estudariam, como os doentes se curariam, como os infelizes se alegrariam, como deveríamos falar com as pessoas, com o Presidente, com o próprio Deus. Ela sabia. Nunca vacilou em suas convicções. Nunca se deixou convencer a fazer qualquer coisa que seu coração não pedisse, pois ela não tinha estômago, nem intestino, nem pulmão. No lugar dessas coisas, ela só tinha coração e eu deixo a vocês a tarefa de imaginar o tamanho desse coração, se era um coração só, enorme, ou vários corações pequenos que cabiam nos recônditos de seu corpo, e que, às vezes, em alguns dias especiais, lhe saía pela boca espumante e começava a pulsar diante de nossos olhos, o coração inteiro, vibrante, irresistível. Eu conheço poucas pessoas como a Sônia e confesso que, se não a tivesse conhecido, minha vida seria mais solitária e pobre. É possível que alguém aqui presente até se sentisse incomodado com suas constantes demonstrações de preocupação e interesse, como eu me incomodava todas as vezes que ela me visitava e agarrava logo uma vassoura, como se a atividade mais importante de sua vida fosse limpar e varrer e arejar e criar um espaço confortável ao seu redor... para nós. Confesso que, às vezes, eu ficava temeroso de que sua vitalidade fosse tanta, que ela empinasse a vassoura e saísse voando. Pois é. É possível que tanto desprendimento, tanta vitalidade, tanto desejo de marcar a nossa vida... É possível que essas coisas nos tenham incomodado brevemente, em algum momento. É que nunca estivemos inteiramente preparados para viver no mesmo universo da Sônia, um universo cheio de turbilhões e provas incontestáveis de apreço e amor. É que nós nunca estivemos sintonizados na mesma frequência apaixonante de seus arroubos e gestos grandiosos de compaixão, misericórdia e afeto. Não estou dizendo que ela foi perfeita. Seria impossível que uma pessoa tão desproporcional, cujo coração imperava além de todas as outras características, fosse perfeita. Nem estou dizendo que ela era imperfeita, pois seria impossível considerar imperfeito aquilo que transpirava boas intenções e desejo de proximidade e afeição. O que a Sônia se tornou para nós foi uma pessoa extraordinária, que será sempre lembrada, com sorrisos e lágrimas. E ela merece cada um de nossos sorrisos e lágrimas. Ela merece nossa admiração e devoção. Ela agora ocupa um lugar especial na prateleira de heróis desta família. Resta-nos aprender a transcender as palavras literais da Sônia para abraçar seu significado imaterial e simbólico. Não importa o que ela lhe tenha dito. Não importam as palavras exatas que ela usou. O que importa é o espírito com que ela sempre se manifestou, com o coração. O que importa é que nada mais importaria para a Sônia do que sermos todos felizes. O que importa, para Thauan, Thalles, Mauro, Leonor, Ana, Tania, Vania, Mário e todos os cunhados, Taty, Bachega e todos os sobrinhos, Keila, Lúcia e todos os primos, é que honremos a memória da Sônia, imitando-lhe a mesma grandeza de coração, o mesmo desprendimento pelo próximo, a mesma vontade de viver e ser feliz. A Sônia nos ensinou a viver e a morrer. Ela simplesmente nos precede. E, quando chegar a nossa hora, devemos ir com a mesma dignidade e coragem, com a mesma firmeza de decisão em seguir o que o coração nos pede. Se seguirmos seu exemplo, vamos todos nos consolar com a esperança de um reencontro feliz. E ainda que nos falte essa esperança num dia escuro, de chuvas inclementemente frias e desnorteadoras, podemos nos consolar com a lembrança de uma vida absolutamente extraordinária, com a lembrança dos momentos felizes em que a Sônia cuidou de nós ou nos incendiou com um lampejo de sua alegria e vigor. Vamos ser fortes, vamos ser felizes, vamos cuidar uns dos outros, sem nunca desistir, sem que nos arrefeça o ânimo, sem que cedamos ao cansaço ou às justificativas implausíveis. Não podemos decepcioná-la. Ela nos arrancaria o coração se o fizéssemos... A Sônia se vai, mas não a sua memória, não a sua força! Que Deus nos ajude, portanto, a ser fiéis ao seu espírito de amor e dedicação.Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-11435944194245334622019-04-24T03:58:00.004-07:002019-04-24T03:58:35.044-07:00O peso dos dias<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
O que pesa mais? Um mês ou dez anos? Eu sei que você
será tentado a responder, à queima roupa, que o peso de dez anos ultrapassa, em
muito, o peso de um simples mês. Por favor, detenha-se. Não se precipite. Há
que considerar o que significam esses espaços de tempo. É possível que, no
impasse das épocas, a década não se compare ao mês...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
De que década falamos? De que década poderíamos
falar? A última década? Os dez últimos anos de felicidade ingênua, atalhados
por situações de aflição e desapontamento, mas ainda válidos por causa dos
carinhos e cuidados, as pequenas e grandes demonstrações de afeto, os prazeres
só aparentemente passageiros e medíocres, os sacrifícios em prol de prêmios e
recompensas singelas, mas sempre, de alguma forma, gratificantes... Estes dez
anos cujo ciclo fechou há um mês: a década de construção, renovação, idas e
vindas, débitos e saldos, viagens para perto e para longe, para dentro e para
fora, para bodas e celebrações, ou simplesmente para cumprir planos e metas. É
essa época que não nos sai da memória, é dela que falamos. Falamos de dez anos
de sorriso nos lábios, emoção no peito e esperança à flor da pele. Foram
abraços apertados, olhos nos olhos, sempre acessíveis, sempre emparelhados para
deixar claro o alcance ilimitado da paixão e da loucura quase infantil de amar
com tanta intensidade, até a dor dos ossos. Como poderiam dez anos de presença
ser mais leves do que os meros trinta dias que compõem um mês? Talvez você ache
que nem precisa ler o resto, pois o peso dessa década arqueada com tantas
promessas e sonhos afunda e engole a balança de qualquer avaliação ligeiramente
justa ou totalmente imparcial...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
Mas espere! De novo, é preciso não se precipitar.
Escute de que mês falamos. Atenção para estes trinta longos dias de silêncio e
solidão, sem que o telefone toque, sem que se ouça a voz do peito nem se veja a
fisionomia familiar. São trinta sofridos dias de reclusão, sorvidos, na
penumbra, como se fossem as gotas amargas de uma poção fatal, como se bebêssemos
as próprias lágrimas misturadas com fel e vinagre. Falamos da sufocante
verificação da falta. Falamos do mês sem, o mês vazio, o mês trôpego dos nossos
tropeções e quedas em que resvalamos na tristeza e na dor. Falamos de um mês,
abril, que se fechou, como fecha o céu em tempestade, como se fecha a cela dos
condenados, sem esperança de indulto ou recuperação. É o peso deste mês que a
nossa balança mede e, descalibrada como possa ser, não lhe é facultado dizer
outra coisa senão que este mês é o mais pesado de todos os que o antecederam
nestes dez, vinte, trinta anos... A balança não mente. Não ousa mentir. Não
ousa passar por alto o peso dos corações órfãos deste mês que pesa uma
tonelada, mil toneladas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
Nossa década não pode se transformar em mês. Não se
reduzirá jamais aos trinta curtos dias de uma fantasia que não podemos conceber.
Quem dera pudéssemos! Este mês vai, porém, se transformar em década. E, à
medida que seus dias inclementes avançarem, seu peso talvez se esvazie até o
tamanho do nada. Talvez! Provavelmente não.</div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-38342993209886301332018-12-18T10:57:00.001-08:002018-12-18T10:57:20.656-08:00Discurso de Formatura da Turma de 2018 de Letras (Inglês e Português) do UNASP<span style="white-space: pre;"> </span>É difícil começar uma conversa. Diante de imensa consideração, diante do mérito indiscutível, diante do afeto indescritível e da admiração incontida, as mãos suam, a boca fica seca, os joelhos se afrouxam e o coração se acelera. Vocês já sentiram esse formigamento nas juntas? Já temeram que o coração lhes saísse pela boca? Já puseram a mão sobre o estômago para acalmar as borboletas assanhadas que insistiam em alçar voos e mais voos? Já se sentiram assim? Lembram-se dessas emoções? Já passaram por isso?<br />
<span style="white-space: pre;"> </span>É assim que me sinto hoje, ao me dirigir a vocês: Larisse, Ingrid, Karoline Mainardes, Núbia, Sandra, Silvanielle, William, Caroline Verano, Dirceu, Êmerson, Márcio, Maria Fernanda, Amanda, Elina, Francisco Ricardo, Giovanna Finco, Milena e Sarah. São as sensações de um pai de primeira viagem, de um professor estreante, de um atleta amador, de um aluno novato, de alguém que nunca falou em público. Obviamente, eu não sou nenhuma dessas coisas. Só me sinto assim porque vocês me fazem sentir assim. Não dá para descrever, nem com uma exatidão aproximada, vaga, distante, o orgulho e a satisfação de vê-los assim como estão hoje: disciplinadamente aguardando o momento de comemorar sua espetacular conquista das letras, das palavras, das frases inteiras e definitivas, nesta e naquela língua!<br />
<span style="white-space: pre;"> </span>E os sentimentos que acabei de descrever não são o resultado de interações aleatórias e ocasionais. O carinho que nós professores recebemos de sua turma foi algo intencional e profundo, algo que vem das entranhas, da afeição que vocês nos demonstraram ao longo dos meses e anos. Dificilmente, na minha vida, eu tive a oportunidade de me dirigir a um grupo mais compreensível, mais afetuoso e terno, mais disposto a relevar nossas limitações como educadores. Talvez alguém menos perceptivo pudesse supor que o fizessem por condescendência ou apatia. Essa pessoa, sem noção e vil, não poderia estar mais longe da verdade factual que vocês representam no dia de hoje. Vocês o fizeram porque está em sua essência ceder aos impulsos mais nobres de seu coração. Vocês o fizeram porque são quem são e por terem vindo de onde vieram, dos braços acolhedores de seus familiares, do exemplo que receberam em casa e na vida.<br />
<span style="white-space: pre;"> </span>Eu não poderia deixar de fazer uma menção especial aos alunos desta turma e de outra que foram meus orientandos e com quem troquei mensagens e conversas nos intercâmbios frequentes e prazerosos que tivemos acerca de autores antigos e modernos, de línguas próximas e distantes, de traduções e interpretações, de prosa e poesia, de coisas que só as pessoas de sua inteligência e sensibilidade são capazes de entender, coisas além da imaginação daqueles que caminham pelas veredas arborizadas desta Instituição e que podem entender de números e contas, prédios e pontes, leis e decretos, notícias e propagandas, produtos e produção, tomates e batatas, mas jamais serão capazes de trafegar nos caminhos abstratos e impenetráveis das grandes questões da literatura e da vida, pois vocês não saem daqui apenas como especialistas em letras, mas especialistas em letras que formam conceitos tão elevados como existência, amor, drama, tempo, sofrimento, felicidade. E eu quase seria capaz de dizer como cada um de vocês soletra essas palavras com gestos e cuidados, atenções despretensiosas, sorrisos incomparáveis, divertidos, sinceros, profundamente reveladores de personalidades afetuosas. A cara de quem se importa, de quem está feliz porque entende o próprio valor e o valor do outro, dos outros. Gente que não se mata uns aos outros por dinheiro, posições, cargos, poder ou qualquer outra atração mundana que engana a tantos tolos hoje em dia.<br />
<span style="white-space: pre;"> </span>Obrigado por terem iluminado a nossa vida nestes anos em que estiveram sob os nossos cuidados e, ao mesmo tempo, sobre os nossos cuidados, acima deles, além deles. Obrigado por terem feito uma escolha tão genuína: a opção pelo bem e pelo diálogo. Obrigado por darem o exemplo que precisa ser seguido por mais gente: a opção pela palavra, pelas palavras, por frases inteiras, reveladoras do fato de que vocês são pessoas humildes, mas valiosas; gente simples, mas profunda; alunos carinhosos, amorosos, nosso orgulho. Parabéns por esta conquista, a primeira de muitas; depois, o mestrado; o doutorado; o pós-doutorado; o céu! Vão com Deus, sempre para frente, sempre para o alto.Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-45850417727967896392018-12-18T10:55:00.001-08:002018-12-18T10:55:41.418-08:00Discurso de Formatura da Turma de 2018 do Curso de Tradutor e Intérprete do UNASPNos exatos nove anos em que estou no UNASP, esta é a quarta vez em que sou escolhido p/discursar na formatura do Curso de Tradutor & Intérprete: 2013, 2014, 2017 e agora 2018. Está ficando cada vez mais difícil saber o que dizer. Não se trata da dificuldade que um poeta encontra quando já lhe pediram para discursar sobre as estrelas e a lua, e agora lhe pedem para falar também do sol. Não se trata de falta de palavras, de inspiração. Não é tampouco que o assunto esteja esgotado. É que as emoções estão cada vez mais fortes, cada vez mais difíceis de refogar com alho na trempe do coração. É que os nomes estão cada vez mais próximos, cada vez mais profundamente registrados, não apenas no córtex, a superfície do cérebro, mas nas dobras recônditas da memória: Adriane, Agatha, Amanda, Ana Vieira, Camilla, Carlos Eduardo, Danilo Fauster, Elina, Évelyn Bittencourt, Gabi, Giovanna Finco, Giovana Santos, Marcele, Luma, Ramage, Renato, Vanessa e Yuri. Faço questão de dizer todos os nomes. Faço questão de individualizá-los. Faço questão de abrir uma página da minha vida para cada um de vocês, com recortes, fotos, lembranças incríveis, a palavra favorita de seus TCCs! Paulo Freire escreveu um livro no qual recomenda que os alunos não chamem as professoras de tias. Com isso, presumo que ele tampouco quisesse que chamassem os professores de tios. Prestem atenção: eu sei que vocês não nos chamam de tios ou tias, por mais que tia Ana Schäffer até que soasse bem. Em sala de aula, vocês se referem a nós como “professores”, mas, em geral, quando falam comigo, vocês nos tratam pelo primeiro nome ou algum apelido carinhosamente inventado. Dizem: - O Neums fez isto; o Édley, aquilo. E eu acho isso o máximo! Sabem por quê? Porque vocês nos colocam no mesmo nível de vocês e não há nada que nós, professores, desejemos mais do que ficar lado a lado com vocês, estar no mesmo nível de gente tão brilhante, tão de bem com a vida, tão felizes e esperançosos, tão cheios de perspectivas para o presente e o futuro, tão incomparavelmente amados, tão incomparavelmente bons e lindos, e, aliás, com um gosto musical impecável. Graças a Deus pela música! Por isso, continuem nos chamando pelo primeiro nome, continuem nos chamando de amigos - ou friends, se preferirem...<br />
Esta é uma noite de despedidas, mas não uma noite triste. Esta é uma noite de saudades, mas não melancólica. Esta é a noite de dizer adeus, mas não sem a esperança de reencontros, trombadas acidentais e retornos cuidadosamente planejados. Vocês nunca mais estarão todos reunidos no mesmo lugar. Sempre faltará a Elina, como falta hoje! Talvez falte mais alguém, por algum imprevisto de última hora ou por alguma ocupação extraordinária, além de nossa capacidade de lidar com a vida ou com a morte. Mas, mesmo que nunca mais se reencontrem, ainda assim, nunca estarão inteiramente separados. A partir de agora há um laço invisível e indissolúvel que vai prendê-los uns aos outros e a nós pelo resto da vida e além. Não foram vocês que escolheram quem faria parte da conexão que se formou nos últimos anos e se consolida inquebrantável neste exato momento. Foi a Providência que os colocou juntos aqui e agora. Do mesmo jeito que vocês não escolheram os pais e familiares, mas Deus lhes concedeu essas pessoas maravilhosas que se fazem aqui presentes hoje para celebrar conosco a admiração que temos por vocês neste momento de superação e vitória, vocês tampouco escolheram seus colegas de turma. Foi a Providência. Ela os colocou juntos para que a turma de vocês tivesse tudo de que necessita, não para o sucesso e a felicidade, que são coisas imateriais e, às vezes, passageiras, mas para que vocês sejam pessoas de bem, das quais nós todos vamos sempre nos orgulhar. Por isso, a Providência os muniu com tiradas eloquentes e irrefutáveis, vozes afinadas e politicamente corretas, mãos de fada, bilhetes premiados, mira certeira, ideias geniais, sonhos mirabolantes, amor espalhafatoso, coração de leão e alma impermeável. A posse destas qualidades não significa, porém, que estarão sempre prontos para superar os dissabores da vida. Significa simples, mas expressivamente, que terão à disposição os recursos para fazê-lo. Basta que se lembrem, basta que olhem para si mesmos e para nós, para as forças benévolas que se arregimentam em favor do bem. Os desafios do sucesso e da felicidade podem, em algum momento, ter parecido impossíveis de alcançar. Talvez ainda pareçam para outros, mas não para vocês. Para vocês, não parecem mais. Afinal, como vocês mesmos colocaram em seu convite de formatura, o impossível é sua especialidade. Então, saiam daqui hoje com a missão de fazer o possível e o impossível para serem boas pessoas, e terem êxito e felicidade. Podem continuar contando conosco para o que der e vier, pois somos o seu back-up. Que Deus os abençoe!Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-14397504985307769252018-08-28T06:35:00.001-07:002018-08-28T06:45:02.591-07:00De que é feito o universo?por Milton L. Torres<br />
<br />
<br />
<div style="direction: ltr; language: pt-BR; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0in; margin-top: 0pt; mso-line-break-override: none; punctuation-wrap: hanging; text-align: left; unicode-bidi: embed; word-break: normal;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: "calibri";">De que é feito o universo? Tales falava em água;
Anaxímenes, em ar. Na perplexidade de quem não sabia explicar o inexplicável,
Anaximandro inventou um componente misterioso e indefinível a que chamou de </span><span style="color: black; font-family: "calibri"; font-style: italic;">apeiron</span><span style="color: black; font-family: "calibri";">! Pitágoras disse que
o nosso universo era formado de números; e Heráclito, de fogo e movimento.
Parmênides, mais próximo da verdade, imaginou um universo feito de ilusões.
Zenão queria que esse elemento básico que constituiria todas </span><span style="color: black; font-family: "calibri";">as coisas fosse o </span><span style="color: black; font-family: "calibri";">tempo, nosso velho
conhecido de barbas brancas e olhar enigmático. </span><span style="color: black; font-family: "calibri";">Guloso, Em</span><span style="color: black; font-family: "calibri";">pédocles quis logo uma constituição quádrupla, e cogitou
num universo inteiramente formado por fogo, terra, água e ar, uma espécie de
bolo cósmico sem glacê. Para Demócrito, tudo não passava de átomo, vazio e
acaso. Mas o filósofo mais sábio, o que desvendou realmente esse mistério, foi
aquele que disse que o nosso universo é feito de amor e ódio. Assim, trombamos
todos os dias com essas duas forças primordiais e irresistíveis, e somos
arrastados por uma ou outra...</span><span style="color: black; font-family: "calibri";">
</span></span></div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-84539947824820356352018-08-28T06:24:00.000-07:002018-08-28T06:24:11.045-07:00Se a vida fosse como um dispositivo da Applepor Milton L. Torres<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-weight: bold;">Se
a vida fosse como um dispositivo da Apple, a gente sempre faria compras no
mesmo supermercado. A gente se alimentaria não para comer, mas para gastar.
Nada de batatas fritas, feijoada ou bife a cavalo. Só </span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-style: italic; font-weight: bold;">menu</span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-weight: bold;"> de degustação.
Calçaríamos os sapatos pelo calcanhar e nunca pelos dedos do pé, abotoaríamos a
camisa pelas costas, usaríamos o relógio no tornozelo, fecharíamos o zíper pelo
lado de dentro e, na medida do possível, deixaríamos as mãos sempre livres para
nos aplaudir a nós mesmos por estarmos fazendo tudo isso de um modo original.
Todos seríamos corintianos e usaríamos um tapa-olhos. Ou dois! Afinal, para que
criticar a perfeição? No dia do aniversário, tocaríamos um </span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-weight: bold;">iTune</span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-weight: bold;"> e gritaríamos “Oba!”
Só conversaríamos com quem tivesse a cor certa, a voz certa, o carro certo, a
profissão certa e a conta bancária certa. Se a vida fosse como um dispositivo
da Apple, a gente talvez se divertisse menos, mas ia dar uma ótima </span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-style: italic; font-weight: bold;">selfie</span><span style="color: #002060; font-family: Andalus; font-weight: bold;">! </span></span>Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-20249007049439715502018-08-28T06:18:00.001-07:002018-08-28T06:21:37.305-07:00Cada louco é um loucopor Milton L. Torres<br />
<br />
<br />
<div style="direction: ltr; language: pt-BR; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0in; margin-top: 0pt; mso-line-break-override: none; punctuation-wrap: hanging; text-align: left; unicode-bidi: embed; word-break: normal;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: black; font-family: "calibri";">Ontem foi o dia do psicólogo. Parabéns para eles! Quanto a mim, prefiro me embolar com os meus
traumas e neuras. É que, para mim, o mais divertido na vida, o que me faz sentir vivo, febril, febricitante, é justamente enfrentar esses traumas, próprios e alheios. Toda vez que me deparo com uma dor profunda ou inexplicável, no coração ou na cabeça, de
quem quer que seja, é como se me defrontasse com uma montanha de vertigem, tão alta
quanto a angústia e tão funda quanto a imaginação, convidativa. Por isso, sou como um
alpinista das emoções, desejos e pensamentos que cortam a minha vida e se
embaralham com ela. Assim passo a vida, assim me divirto (ou não), mas, no plano
humano, ninguém me entende melhor do que eu mesmo... Cada louco é um louco!
Esta é a minha loucura. Favor não atrapalhar (</span><span style="color: black; font-family: "calibri";">
</span></span></div>
<br />
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-78487578950996234862018-04-11T07:23:00.003-07:002018-04-11T07:25:04.628-07:00Dez Coisas Favoritas (Para Minha Amiga Samilly)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">por
Milton L. Torres<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">De vez em quando
converso pelo whatsapp com uma incrível moça de Minas Gerais chamada Samilly.
Ela é inteligente, sensível e tem um papo muito cabeça, exceto quando começa a reclamar da vida. Nesses momentos, eu geralmente a interrompo e
procuro reacender uma centelha brilhante que, às vezes, fica escondida no
coraçãozinho dela. Aí eu começo a falar de coisas boas. Ela fica mal-humorada
por alguns minutos, mas, no fundo, no fundo, eu sei que ela concorda comigo e
que fica me contrariando só para fazer a conversa render. Ao falar de coisas
favoritas, ela nunca consegue mencionar mais do que duas, lamentando-se de que
as coisas simplesmente não a empolgam mais. E eu quase que escuto o coração
dela batendo, pois sei que dentro dele palpita vida como ela nunca seria capaz
de imaginar, essa centelha que certamente renderia um fogo consumidor, até uma
grande paixão, expectativas e sonhos além da imaginação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Eu decidi pensar
em dez coisas favoritas capazes de fazer o coração da Samilly ganhar novo ânimo
e encher-se de desejo pela vida. Não apresento a lista numa ordem coerente ou
gradativa. São só as coisas que me entusiasmam e me fazem querer viver e ser
feliz, coisas com as quais gostaria de infectá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em primeiro
lugar, tiramisu, a sobremesa favorita de Jesus: melhor do que sorvete, torta
holandesa, ou qualquer coisa que a imaginação colorida dos cozinheiros gourmet
consiga conceber. Ou, em vez disso, macarronada cheia de cogumelos e
manjericão...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em segundo lugar,
disputa de pênaltis, quando a bola na marca da cal decide se a gente fica ou
vai embora, se comemora o campeonato ou se recolhe à melancolia profunda dos
perdedores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em terceiro
lugar, uma criança no colo, ensinando os recomeços da vida, os braços
estendidos com sinceridade, os incansáveis beijos repletos da admiração
evocativa daqueles que são puro sonho e fantasia. Ou, nesse mesmo colo, um
cachorrinho, em vez disso, com afagos e carinho, o ser humano mais completo que
já conheci...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em quarto lugar,
um filme de ficção científica em que a raça humana se salva por um triz na
guerra dos mundos, a tela bruxuleante e hipnótica da qual não se pode desviar o
olhar por um segundo sequer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em quinto lugar,
um livro: de Lucrécio, Guimarães Rosa, Nietzsche ou Homero. Algo épico,
grandioso, cujas páginas se enchem de emoções e conflitos, tudo resolvido sob o
beneplácito dos imortais, sejam eles divinos ou humanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em sexto lugar, um
passeio de carro num dia ensolarado em que, nenhuma preocupação nos acompanha,
a não ser a estrada, quando o vento nos despenteia o cabelo pela janela aberta
e nem nos incomodamos com isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em sétimo lugar, o
beijo no pescoço, com os calafrios que o acompanham, prenúncios de prazeres
maiores e irrevogáveis, o cheio adocicado do perfume, os frêmitos, o gozo já
antecipado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em oitavo lugar,
o apelo do sermão, quando, vulnerável e atento, o coração aspira a novos
horizontes, uma sobrevida eterna, a companhia dos anjos, enquanto o coral canta
de ondas e mar, a travessia para o outro lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em nono lugar, o
vislumbre da janela do avião, quando o destino é um paraíso tropical, Punta
Cana ou Cancun, e você imagina como é possível que voe numa máquina mais pesada
do que o ar, porém se lembra, então, de que a vida tem suas dores, mas é também
cheia de prazeres...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Em décimo lugar, uma
canção dos Beatles, com a ingenuidade lírica dos que só querem e buscam o bem,
a paz que se imagina, um céu de diamantes, o submarino amarelo, segurar a mão,
enquanto a guitarra quase que adormece gentilmente sob o sentimento do coro,
mesmo que você tenha ou se sinta com 64 anos de idade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "palatino linotype" , "serif";">Não sei se a Samilly
já experimentou tudo isso ou a metade disso ou duas dessas coisas ou pelo menos
uma delas, umazinha só. Quando eu a leio, ou vejo, ou ouço, eu só posso desejar
que ela o faça. Se ela o fizer, essa cabecinha, às vezes tonta e cheia de
devaneios, e esse coraçãozinho, às vezes apertado e triste, vão lhe abrir os
olhos para que leia, veja e ouça como eu a leio, vejo e ouço: uma moça cheia de
vida que tem tudo para ser feliz e com quem eu, alegremente, trocaria de lugar
quando, onde e por tanto tempo quanto ela quisesse, para ser Samilly, jovem,
linda, cabeça de vento, coração de palha, para me contrariar e contradizer,
para experimentar, de novo, como se pela primeira vez, cada uma das dez coisas
favoritas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<br />Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-85002659033774647342018-02-13T08:21:00.002-08:002018-02-13T08:21:15.518-08:00Confissão<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Nunca
pensei que um dia eu me apaixonaria por um homem. Para falar a verdade, acho
que era mais fácil eu me apaixonar por um cachorro, um time de futebol inteiro,
uma aliá, a baiana do acarajé ou um bicho preguiça. Mas, exceto pelo cachorro,
isso não ocorreu. Estou mesmo é apaixonado por um homem. Às vezes, sem qualquer
motivo aparente, começo a pensar nesse rapaz alto, esbelto, de cabelos
encaracolados e músculos perfeitos. Imagino se está feliz, se sua saúde vai
bem, se seus sonhos estão se realizando, se está sorrindo ou chorando. Quando
faz frio ou chove, temo por seu conforto. Se está escuro, sofro por sua
segurança. Se é um dia de sol brilhante e temperatura agradável, fico pensando
se está usando o famigerado protetor solar. Quando estou comendo, imagino se
está com fome. Quando estou rodeado de pessoas que me abraçam e me fazem feliz,
vislumbro se está sozinho, se recebeu pelo menos um abraço o dia todo, se
alguém lhe disse o quanto é especial e como o meu coração bate forte quando
penso nele. Até o gosto da comida que como ou a graça do filme a que assisto
dependem de estar absolutamente garantido que esse objeto da minha afeição
também se farta, também se diverte, também se emociona, também se condói e quer
ser feliz como eu sou feliz quando penso nele, ou o vejo, ou o imagino, ou o
sinto ao meu lado. Nunca pensei que outra figura, um tanto parecida com o que
eu já fui ou sou, pudesse ter esse poder de mobilizar os meus sentimentos e me
fazer esquecer de mim mesmo, todo concentrado que fico e dedicado ao propósito
de vê-lo triunfante, feliz, realizado. Ainda mais hoje, ainda mais nestas 24
horas do dia 7 de fevereiro, em que eu sei que ele comemora mais um ano de vida
e eu comemoro a luz, a respiração, o sentido. Não faz muito tempo que estamos
juntos. Não na minha perspectiva. O que são vinte e poucos anos? Uma ninharia.
O tempo de dois cãezinhos e uma úlcera no estômago. O que são vinte e poucos
anos diante da enormidade do sentimento, do peso dessa afeição inquebrantável e
irresistível? Já me falaram que alguns homens se dispõem a morrer por outros. A
cada ano, a cada aniversário, o meu ceticismo diminui. Não sei se eu facilmente
tomaria a decisão de morrer por ele, mas esse pensamento já me passou pela
cabeça, o que é muito mais do que qualquer outro homem já mereceu de mim, tão
forte é essa convicção de que estamos atados num laço inextricável de
bem-querer. Confesso que minha vida seria agora um tanto vazia, oca de sentido,
se não fosse pela presença dele ao meu lado. Confesso que nunca amei a nenhum
outro homem como eu o amo. Confesso. Confesso que o meu filho representa mais
para mim do que qualquer pai poderia querer que o filho lhe representasse, quer
faça chuva ou sol, quer tenhamos saúde ou doença, quer a gente viva ou morra,
quer a gente ame ou seja o objeto de ódios injustificáveis e mesquinhos. A nada
disso eu temo. De nada disso eu fujo. Se a felicidade da vida reside em um
único e ardente desejo. O que eu desejo hoje é um feliz aniversário para o meu
filho querido!</span><br />
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-fareast-theme-font: minor-fareast; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span>Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-77015793154089256582018-01-06T13:33:00.001-08:002018-01-06T13:33:28.774-08:00Natal de anjos<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
E se um anjo lhe aparecesse e
dissesse: - Eu não gosto do natal! O que você faria? O que você perguntaria se
tivesse a chance de se aproximar desse ser celestial e lhe indagar as razões de
seu desencanto e decepção com o natal? O que você acha que o anjo que não gosta
do natal lhe diria? Eu posso imaginar o anjo fazendo cara séria, olhando-o
firmemente nos olhos e, com certo ar de reprovação, devolvendo-lhe a pergunta:
- Por que eu deveria gostar do natal?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Essa não seria a hora perfeita
para você desembrulhar suas respostas enlatadas e mencionar que o natal é o
aniversário do nascimento de Cristo, que o espírito de natal enche os corações
de esperança e alegria, que a época natalina é a mais feliz do ano. Anjos são
criaturas muito inteligentes e, provavelmente, o nosso anjo já conhece esses
jargões, já ouviu muitas vezes essas frases serem ditas da boca para fora, sem
nenhum conteúdo emocional ou espiritual. Além disso, em seu íntimo, você sabe
que não é por isso que nosso anjo não gosta do natal.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
É melhor revolver o coração e
tentar tirar de lá uma resposta mais sincera e articulada! Vamos, você
consegue! Por que os anjos deveriam gostar do natal quando nós, seres humanos,
o comemoramos da forma mais egoísta e disparatada que podemos conceber. Por que
os anjos deveriam gostar do natal quando, nessa época, nossas preocupações
mundanas se voltam para a glutonaria, a bebedeira, o consumo, a ostentação e,
acima de tudo, a indiferença?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Como podem os anjos gostar do
natal quando, em meio a tanta carência e necessidade de nossos semelhantes,
gastamos tanto com nossos próprios desejos fúteis e fantasias pervertidas?
Quando, em meio a tanta fome, nós comemos e bebemos não como se fosse natal,
mas como se estivéssemos às vésperas do dilúvio ou da destruição de Sodoma e
Gomorra? Quando, diante de tanto sofrimento, nós nos esquivamos do dever para
prosseguir no nosso caminho de levitas e nem damos ouvidos a esses apelos
insistentes de nosso coração de samaritanos?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Apesar disso tudo, você pode
dizer ao anjo que releve! Você pode dizer a ele que siga o exemplo do Pai amado
que, no caso de Abraão, estava disposto a poupar uma cidade inteira por amor a
uma meia dúzia de almas fiéis e puras. Você pode apontar para as crianças e
dizer ao anjo que elas, sim, vivem o verdadeiro espírito do natal porque se
desprendem das amarras dos egoísmos diários para desejar só o bem àqueles que
com elas compartilham a vida. Você pode dizer como nos compadecemos delas e,
por sua causa, nos dispomos aos mais inacreditáveis sacrifícios só para vê-las
sorrir alegres. Você pode apontar para estas pessoas que nos ouvem agora, estas
pessoas que estão aqui, neste lugar, nesta hora, dizendo ao anjo, que,
doravante, nós nos empenharemos, de todas as formas possíveis e imagináveis,
para que os anjos gostem do natal. Pode dizer ao anjo que nós buscaremos, neste
natal, a felicidade do próximo mais do que a nossa própria alegria e que, ao
fazer isso, daremos início a uma corrente do bem, que há de contagiar a todos
os outros seres humanos deste planeta para que, juntos, transformemos o natal
naquilo que, de fato, deveria ser: um natal de anjos!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-90135289745228213232017-12-17T12:10:00.003-08:002018-01-06T13:30:53.646-08:00Discurso de Formatura para a Turma de Tradutores & Intérpretes de 2017por Milton L. Torres<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Ser
professor é a tarefa mais difícil do mundo, pois nenhum outro emprego exige que
nos afeiçoemos às pessoas para, três, quatro ou cinco anos depois, termos essas
mesmas pessoas separadas de nós de forma abrupta e, quase sempre, definitiva.
Há casos, como o dos enfermeiros, em que genuína afeição acontece, mas por
pouco tempo. Não se criam laços, imagino, e as raízes dessa afeição podem ser
ternamente arrancadas do terreno fofo em que estiveram plantadas por um
intervalo minúsculo de tempo. Com os professores é diferente. Os laços se
estreitam, se apertam, se misturam, se entretecem de maneira tão definitiva que
é só com sangue que se desfazem, com lágrimas!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Turma de
tradutores e intérpretes de 2017, não quero incomodá-los com os sentimentos de
saudade que vocês tão despretensiosamente nos impõem hoje. Afinal de contas, a
ocasião exige um espírito mais alegre, um vislumbre mais venturoso do futuro e
da vida! Não estamos aqui para lamentar
essa cúmplice proximidade que, sob Deus, nos uniu para sempre, mesmo à
distância de milhares de anos-luz, mesmo sob os escombros debaixo dos quais
enterramos hoje esses sentimentos de falta e perda! Pelo contrário, estamos
aqui para celebrá-los. Estamos aqui para celebrar que não serão mais forçados a
fazer nenhuma interpretação sob o crivo de um professor dedicado, mas exigente.
Estamos aqui para celebrar sua vitória na impecável, ou quase impecável, apresentação
do TCC. Estamos aqui para celebrar o fim de projetos integradores e provas
interdisciplinares que portam o exótico nome de uma velha tia rabugenta!
Estamos aqui para celebrar que não precisarão entregar nem mais uma linha para
a Ana Schäffer, nem mais um memorial para a Tania Torres. Estamos aqui para
celebrar que não terão que cantar nem mais uma música para o Édley, não terão
que representar nem mais uma peça de literatura brasileira, portuguesa,
inglesa, norte-americana ou grega! Não terão!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
O que
vocês terão que fazer, doravante, será muito mais complexo e desafiador. Vocês
se emaranham hoje nesta impenetrável, inquebrantável, inesquecível teia de
sentimentos e sonhos. Resta-lhes, a partir de hoje, um único professor: a vida!
Resta-lhes, a partir de agora, uma única prova: o caráter! Resta-lhes, a partir
de agora, um único olhar em direções comensuráveis: para frente, para o alto,
para dentro, para o amanhã. Não há como prever quantos viverão, quantos
sobreviverão, quantos serão, de novo, amados e quantos amarão. Só posso, ao
invés de lhes dar essas garantias, convidá-los a olhar para trás toda vez que
forem tentados a ceder à dúvida. Lembrem-se do orgulho com que cada professor
os observa hoje. Lembrem-se do meu tom de voz. Lembrem-se! Porque, ainda que se
passe uma eternidade até o nosso próximo encontro, seus nomes agora têm
significado: Marina, Débora, Giovana, Naty, Vítor, Hanna, Karina, Luma, Laíza,
Alexandre, Benjamin, Viviane, Thaís, Évelyn e César. Essas palavras deixaram de
ser meros hipocorísticos, como diria a Naty, e se transformaram em nomes
mágicos, abre-te-sésamos da minha vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Obrigado
por vocês existirem. Obrigado por vocês terem trazido riquezas incalculáveis
para a vida no aquário. Obrigado por vocês tangerem, hoje, tão profundamente as
cordas que embalam o nosso sonho, que é, principalmente, ter-lhes ofertado de
volta um pouco do muito que vocês nos concederam com seus sorrisos, olhares,
gestos, perdões e, acima de tudo, sua atenção benevolente. Sentimos que, de
modo estoico, vocês se esforçaram para ouvir nossas historietas, essas bravatas
e lugares-comuns com as quais entupimos seus ouvidos e mentes. Vocês nos
fizeram sentir importantes. Isso só demonstra sua nobreza e aptidão para o bem,
herança certa e líquida da educação que receberam em casa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Vocês
vão agora e levam consigo um pedaço grande do nosso coração, provavelmente os
250 gramas que o Mercador de Veneza recomenda. E nós, professores e amigos,
ficamos aqui para viver a vida com os 50, 60 gramas de coração que nos restam.
Não precisam inventar novas tecnologias, não precisam fazer propaganda
enganosa, não precisam descobrir a cura do câncer, não precisam ficar
milionários antes dos quarenta anos de idade nem serem os primeiros astronautas
a colocar os pés em Marte. Não precisam. Podem até fazer essas coisas. Mas não
precisam. Considerem esse volume do nosso coração como um empréstimo, a peso de
ouro, cujo pagamento exige apenas uma coisa: que vocês sejam felizes!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-38222389226497480572017-11-15T12:48:00.001-08:002017-11-15T12:48:06.010-08:00A reação do professor<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se todos os alunos que eu tiver
de agora em diante, até a minha aposentadoria, resolverem me odiar e decidirem me
fazer todo tipo de pirraça e desfeita em sala de aula, no cômputo geral, eu
direi que fui feliz como professor. O afeto que recebi até hoje dos alunos é
avassalador e garante que nenhum complexo de inferioridade me persiga. Posso
dizer, de boca cheia, que fui tão amado quanto amei!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se você já leu alguma linha que
eu tenha escrito no passado, sabe duas coisas: que eu sou meio dramático para
falar das minhas experiências como professor e que sou absolutamente sensível
ao que se passa na sala de aula, especialmente quando isso afeta os meus alunos.
Aliás, considero os momentos da aula como os mais sagrados do dia. Nada me dá
mais prazer do que ser testemunha do despertar das mentes jovens para as
línguas, a literatura, a filosofia e a vida! Afinal de contas, o que são essas
coisas senão a mais autêntica manifestação da existência?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se você não entende por que eu
estou falando dessas coisas agora, eu explico. Ontem alguns alunos se
organizaram para me fazer uma demonstração de carinho, que poderia ter sido uma
homenagem por eu ter sido seu professor conselheiro deste semestre, ou pelo
fato de meu aniversário ter sido há alguns dias, ou uma despedida do
coordenador que deixará a função no final do ano. Não foi nada disso. Foi uma
espontânea e, para mim, comovente revelação de carinho. E sabe de uma coisa?
Fiquei surpreso, mas não espantado! Não se pode esperar senão carinho de quem é
carinhoso. Não se pode esperar senão o máximo de quem é o melhor!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se você ainda continua perdido e
sem qualquer noção quanto às razões por que estou aqui ruminando e saboreando
um momento inesquecível, é porque você não estava lá. Não sabe por que se leem
os clássicos, não entende por que é importante encontrar alguém para amar, não
veste camisa branca de manga comprida, não entende, não sabe “além da matéria”,
nunca lhe disseram “da face da terra”, nunca os alunos o chamaram, em latim, de
“arquiteto do próprio destino”, nem de “capitão”, nem de “o cara”! E,
possivelmente, nunca nenhum aluno tenha tido a coragem de encará-lo de frente e
dizer: - Você é o professor chato mais legal que já passou na nossa vida! Nem
deve ter ouvido a palavra FAVORITO no contexto da relação professor-aluno. Pois
eu, sim! Eu estive lá! Eu vi com os próprios olhos! Eu ouvi com os meus
ouvidos! Eu senti com este coração que bate, mas, às vezes, bate desordenado, <i>skipping a beat</i>!</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se você ainda não consegue me
entender... Eu lamento. Se após se, não é possível iniciar outro parágrafo com
a conjunção condicional. Paremos de nos referir às hipóteses e sejamos claros:
você não entende muito de educação e não sabe o que é ser professor de alunos
excepcionais que entendem das palavras, das línguas, dos livros, dos
pensamentos e, principalmente, dos corações! Obrigado, Franklim, Taila, André,
Julie, Yuri, Adriane, Ana, Jeyce, Jeynifer, Dri, Emiily, Amanda, Camilla,
Agatha e Giovana, os melhores alunos que um professor poderia desejar. É por
causa de vocês que posso dizer que tenho o melhor emprego do mundo, melhor do
que o estrelato na TV, melhor do que a cátedra das ciências, melhor do que o <i>hub</i> do vale do silicone, melhor do que o
bisturi do médico e do que a aquarela do pintor, melhor do que o frenesi da
bolsa de valores! Sem dor no estômago, sem noites em claro, sem reservas quanto
ao futuro, só com boas emoções, muitas emoções...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-45921289562305420112017-11-13T11:50:00.003-08:002017-11-13T11:50:52.846-08:00Crianças que viajam sozinhas<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Em
2002, tomei um voo em Atenas para Frankfurt, onde faria uma conexão para os
Estados Unidos. Ao embarcar, notei um casal choroso que se despedia da filha de
uns oito anos de idade que ia tomar o mesmo voo para fazer uma conexão rumo ao
Brasil. Sem notar a presença deste outro brasileiro à paisana, conversavam, em
português, sobre os riscos de uma criança viajar sozinha. A menina tentava
tranquilizar os pais, sacudindo afirmativamente a cabeça para cada conselho
recebido.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Depois
do embarque, notei que a menina se acomodou em um assento pouco à minha frente.
Antes, porém, da decolagem, corri até ela e lhe disse, em português, que, se
ela tivesse qualquer dificuldade para se comunicar, podia recorrer a mim,
porque eu falava português. Para minha surpresa e satisfação, ela me explicou que,
além do português, falava outras línguas, inclusive o inglês. Voltei, portanto,
ao meu assento, convencido de que, apesar de tão jovem, a menina de cabelos
cacheados tinha desenvoltura suficiente para lidar com a situação sem a minha
interferência. No entanto, no meio do voo, o avião foi desviado para a Bulgária
porque uma pessoa tivera uma complicação cardíaca. Depois que nosso avião foi
invadido pela equipe de resgate e o passageiro foi retirado às pressas e em
grave condição, a menina pediu à aeromoça para se sentar ao meu lado.
Permanecemos juntos até nos separarmos para nossos respectivos voos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Até
hoje eu me perguntava que impulso me havia levado a procurar a garotinha de
Atenas para lhe oferecer minha proteção. Até hoje eu pensava que havia sido meu
instinto paternal. Afinal de contas, eu tinha uma filha da mesma idade e isso
me havia levado a agir como pai. No entanto, estou agora, neste exato momento,
noutro voo, entre Caracas e a Cidade do Panamá, e um garotinho de uns nove anos
de idade viaja sozinho, sentado entre mim e uma jornalista venezuelana, que não
podia lhe ser mais indiferente. Eu, por outro lado, estou aqui cuidando de
todos os detalhes possíveis para que ele tenha um voo confortável e seguro. Aí
me dei conta de que não podia ser apenas o instinto paternal agindo. Com os
filhos crescidos e nenhum neto à vista, chego à conclusão de que é outra a
razão para minha preocupação com crianças que viajam sozinhas. É que sou
professor!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Dizem
que sou um professor do tipo tradicional e, se isso significa que sou igual ou
parecido com os professores que tive ao longo de minha carreira acadêmica,
então devo concordar: sou tradicionalíssimo. Os professores que encontrei nas
escolas públicas de Minas Gerais, as únicas nas quais estudei até chegar à
faculdade, eram responsáveis, exigentes, envolvidos, tinham tutano e
substância, foram a melhor influência que tive na minha infância e a principal
razão por que escolhi a carreira de professor. No entanto, esses professores são
impiedosamente criticados pelos pedagogos de hoje como arrogantes, presunçosos
e, acima de tudo, controladores. Não conheço outra profissão que tenha sido tão
constantemente difamada quanto a do professor. Sendo assim, não é de admirar que
quase ninguém ainda nos respeite, nem mesmo os alunos que convivem conosco e
testemunham nossos esforços. A sociedade também decidiu crer naqueles que se
levantam para denunciar nossas incapacidades.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Para
o avanço da medicina, não foi necessário pichar os médicos. Para o avanço da
tecnologia, não foi necessário falar mal dos programadores. No entanto, para o “bem”
da educação, não se faz outra coisa senão atacar os professores, seus métodos,
sua conduta, seus ideais. Até o adjetivo “tradicional”, de significado tão
positivo em outras esferas, foi conspurcado por sua associação com a profissão
docente. Não é à toa que estamos nos tornando uma classe sem coração e, o que é
pior, sem alma.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
Podem
me criticar e me diminuir, mas é com uma preocupação como a que tenho com as crianças
que viajam sozinhas que entro cada dia na sala de aula. Sou responsável por
todas elas. Sinto a sua apreensão e inseguranças. Busco a sua felicidade. Na
ausência imediata dos pais, eu me ponho <i>in
loco parentis</i>. Por isso, se o avião estiver em perigo, não lhes vou
perguntar o que devo fazer. Eu é que vou lhes dizer o que devem fazer. Não
espero que me salvem nem que me confortem. Eu é que quero salvá-las e, para salvá-las,
peço que confiem em mim, pois, no caso da sala de aula, não sou apenas um
passageiro qualquer nem tampouco um tripulante distraído. Eu sou o capitão, com
a experiência de trinta e tantos anos de voo. Mas como podem confiar se escutam
tantas coisas negativas que se dizem hoje do professor? Por isso, peço que parem
com o enxovalhamento dos professores. Parem com as pedradas! Nós só queremos
proteger as crianças que viajam sozinhas... Só queremos levá-las, em segurança,
ao seu destino.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-77302580728521989432017-11-06T07:04:00.002-08:002017-11-06T07:04:36.649-08:00Como sobre-viver ilesos<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Carl von
Clausewitz foi um militar da Prússia que ajudou a negociar o tratado de paz
entre a Rússia, a Prússia e a Grã-Bretanha, o que ajudou essas nações a deter
Napoleão Bonaparte. Como homem acostumado à linha de frente, von Clausewitz
sabia o que era a guerra. Por isso mesmo, declarou de forma enfática: “se
queremos que a mente emirja ilesa dessa luta renhida com o invisível, duas
qualidades são indispensáveis: um intelecto que, mesmo na hora mais negra e
tenebrosa, consiga reter o brilho da luz interior que o leva à verdade; e a
coragem para seguir essa luz tênue aonde quer que ela o leve”. Eu acho que o
militar superestimou o poder dessa luz interior. Em nenhuma circunstância,
conseguiremos passar incólumes pela vida. E nem deveríamos querer isso. As
marcas que carregamos dessa luta nos ajudam a medir o grau de nosso
enlouquecimento e a magnitude de nossas realizações. A luz não impede a dor;
ela, ao contrário, não faz, em certas ocasiões e só em certas ocasiões, nada
mais do que ofuscar os olhos alheios de modo que não consigam discernir que
trazemos na alma os hematomas de sangrentos golpes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
O meu amigo
Joubert Castro Perez sabe muito bem o que inventar para sobre-viver! Sobre-viver,
com hífen. Entenderam? O que eu mais gosto nele é que ele não faz nenhuma
pretensão de possuir essa luz tênue e individual de verdade, embora a tenha! Ele
não se faz de medida para medir os outros. Ao contrário disso, ele se apresenta
a todos os que o conhecem com as marcas de suas loucuras e realizações. Dá para
ver em cada ferida, sem tentativas de ocultação, o quanto tudo isso lhe custou.
Dá para ver na carne viva! E quando se vive à flor da pele, a gente consegue
sentir, depressa e prontamente, a dor do outro. Daí vem essa sensibilidade
sutil e aérea que o Joubert leva a tiracolo, sua tentativa não de esconder ou
abafar, mas de elevar o corpo magro à altura protegida das ideias e dos ideais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Se quisermos
passar ilesos pela vida, a única alternativa que nos resta é a solidão. Mas não
foi isso que o Joubert quis. Em vez disso, de vez enquanto, ele se recolhe à
companhia do caniço e das iscas. Ali recupera o brilho tênue da verdade e assim
continua a nos ofuscar com sua sabedoria despojada e simples, com o sorriso
luminoso de quem, em sua complacência, já viveu a vida e sabe o segredo, o
segredo arcano que ninguém mais conhece, o enigma que ainda nos intriga. Pois
não se enganem: o Joubert sabe das coisas! O Joubert sabe tudo!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-5589868661857702802017-06-07T04:52:00.000-07:002017-06-07T04:52:54.456-07:00Mensagem que mandei a uma aluna que me perguntou se eu me lembraria dela depois de formada<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A vida é mesmo cheia de surpresas. Nunca pensei que, nas voltas que ela
dá, eu viesse a me tornar amigo de uma descendente de italianos com cara e
atitude de japonesa, mas que gosta de mandarim e fala inglês. O mais
interessante é que você consegue fazer tudo isso sem perder o fôlego ou a pose.
Aliás, pose não lhe falta nunca, até quando está atrasada ou visivelmente na
contramão dos fatos. Não sei se somos do mesmo planeta. Já peguei você em
rasantes voos em Marte, Júpiter ou algum satélite perdido no espaço. Ainda bem
que você tem suas estratégias para retornar a Houston, nem que seja na cauda do
cometa ou no tapete de Aladim. Mas você não precisa sofrer de nenhum complexo
de inferioridade. Sonhar de olhos abertos é uma arte que poucos conseguem
cultivar. E, no cultivo desse legume chamado sonho, você parece especialista.
Aliás, eu sempre soube que os japoneses eram bons de horta! O surpreendente é
que, às vezes, me pego catando as sementes que você plantou. O que eu quero
dizer é que eu também gosto de me perder nos anéis de Saturno ou em alguma
terra distante: na Grécia, de preferência. É, por isso, que – depois que você
se formar e for embora – tenho a esperança de nos encontrarmos com frequência.
É só a gente programar nossos devaneios para a mesma hora ou <i>batcanal</i>.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Será impossível não me recordar de você. Afinal de contas, foram muitas
as encruzilhadas nas quais nos encontramos, de repente, sem nos dar conta
disso. Às vezes, você abandonou o navio antes de ele afundar. Outras vezes, entretanto, você aguentou o tranco e
ficou até o fim. De qualquer forma, você foi sempre leal, amiga, paciente,
animada e presente (ainda que, às vezes, só de corpo). Sempre quis o melhor
para si mesma e para os outros. Nunca foi desleal, autoritária ou impertinente.
Podia continuar aqui no UNASP e fazer dez graduações que continuaríamos amigos,
pois os nossos santos se batem, pássaros da mesma pena que somos, embora cada um
voe à sua maneira e para destinos nem sempre coincidentes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Infelizmente, daqui a pouco você terá que partir para seus voos de ave
solitária e, a partir de então, dona do próprio nariz (ou será que eu devia
dizer do próprio bico?). Vai ficar um pequeno vazio no coração de cada um que
conviveu com você ou participou de uma boa briga com a italiana desse cruzado
forte de esquerda. Quando você tiver comprado aquela casa com a qual você está
sonhando e que já descreveu para mim, saiba que haverá, em algum canto da sala
ou da cozinha, um pequeno espaço cheio de ar que pode muito bem representar
esse vazio do qual acabei de falar. Nunca mais seremos os mesmos. Nunca mais
conviveremos todos juntos e felizes como quando estivemos aqui no UNASP. Seus
amigos partem para suas próximas aventuras, eu fico aqui imaginando o que vocês
estão fazendo da vida e você parte em busca desses sonhos com os quais você se
envolve tão fácil e completamente. Pode ir, sonhadora! Você tem a minha
torcida. Desejo mais o seu sucesso do que a vitória do Brasil na copa.</div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-21196498984289089032017-06-07T04:26:00.003-07:002017-06-07T04:26:32.290-07:00Tripulação, preparar para o pouso<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
por Milton L. Torres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Em
nossa era global de viagens rápidas e frequentes, cada vez mais confortáveis e
seguras, eu especialmente gosto de ouvir o anúncio do piloto, geralmente sem
nenhum aviso prévio: - Tripulação, preparar para o pouso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
A
frase evoca a alegria de voltar para casa, de chegar ao destino, a realização e
satisfação de ter cumprido um trajeto, de estar perto da destinação... Provoca
também a movimentação dos passageiros, apertando o cinto de segurança, travando
suas respectivas mesas, desligando os dispositivos eletrônicos, devolvendo o
recosto do assento para a posição vertical, desfazendo-se dos descartáveis. É
um chamado à ação que precede a inação. É um convite a um estado de alerta em
que, apesar disso, nos colocamos, meio entorpecidos, sob os cuidados daqueles
que nos farão pousar em segurança.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Fico
imaginando se é possível ouvir essa mesma frase estereotipada num ambiente
diferente daquele ao qual estamos acostumados nos voos da aviação comercial.
Imagino também se ela provocaria em nós reações equivalentes. Eu acho que isso
é possível. Foi assim que me senti quando completei cinquenta anos de idade.
Ouvi, claramente, uma voz falando pelo autofalante: - Tripulação, preparar para
o pouso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Diferentemente,
porém, do que acontece na aviação comercial, pareço ter sido o único a ouvir a
voz, apertar o cinto de segurança e seguir os demais itens de protocolo para um
pouso seguro e feliz. As demais pessoas continuaram a se comportar como se
estivessem no meio da viagem, em velocidade de cruzeiro, acima das mais altas
nuvens do céu...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
É
interessante que, na vida, ao contrário da aviação, não chegamos juntos ao
destino. Cada um chega lá na sua vez, às vezes até inesperadamente. Os outros
não ouviram a voz. Mas eu ouvi, e fico grato por ter ouvido. Seria trágico se o
avião pousasse inesperadamente, em meio à turbulência, e eu não estivesse
preparado para esse acontecimento sinistro.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Desde
que ouvi a voz, não faço outra coisa senão me desfazer de tudo o que é descartável.
Não vejo sentido em me apegar a toda essa tralha que venho carregando comigo,
até agora, até este momento da viagem. Assim, venho descartando as coisas.
Naquela hora, quero comigo apenas o que for estritamente essencial.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ao
mesmo tempo, apertei, com firmeza, o cinto de segurança. Isso significa que
estou preparado para um pouso suave, impacto ou colisão. O que vier pela frente
não me pegará de surpresa. Outra coisa que venho apertando é a mão dos outros
passageiros. Não se trata de medo de voar, só quero o conforto de saber que
alguém me segura a mão porque é importante a companhia dos outros. Não podemos
terminar a viagem solitária e tristemente.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Já
travei a mesinha e coloquei meu assento na posição vertical, pois o fim da
viagem não é hora de trabalhar, nem de relaxar. Pelo contrário, é hora de
alcançar o equilíbrio pelo qual seremos lembrados. É, acima de tudo, o momento
de sermos corteses, amorosos, espontâneos e fiéis às coisas que nos definiram e
continuarão a definir enquanto houver lembrança da partida e da chegada.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Fora
isso, ainda não consegui desligar os dispositivos eletrônicos, mas já tenho uma
boa ideia de que precisarei fazê-lo em breve, hoje ou amanhã de manhã. Afinal
de contas, não adianta tomar todas as outras medidas de segurança se não vamos
investir nossa atenção inteira no fim da viagem e suas repercussões. Nessa
hora, é preciso ter as mãos livres para abraçar e beijar, e despedir-nos, e
desejar boa sorte, e olhar bem para os olhos das pessoas e recordar o quanto
elas nos fizeram felizes, o quanto fomos felizes juntos...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
O
melhor, entretanto, é que, nesse fim de viagem, não temos que reclamar nossos
pertences na esteira de número três, nem providenciar os meios para a
continuação do deslocamento. Outros cuidarão dessas coisas... Podemos, em vez
disso, apenas descansar em paz!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-90408371477478731922017-05-11T05:33:00.001-07:002017-05-11T05:34:09.218-07:00Convite para dançar<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
Milton
L. Torres<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Eu
fui precoce na minha adolescência. Desde aquela época, meu desejo era encontrar
a moça certa e, com ela, constituir família. O problema é que eu era tímido.
Morando no subúrbio de Belo Horizonte, a melhor forma de conhecer uma moça era
frequentar os bailes do bairro, e era isso que eu fazia. Eu me arrumava da
melhor forma que podia, ia periodicamente para os bailes e observava as
pessoas, mas sempre me faltava coragem para me aproximar de uma moça e
convidá-la para dançar. Sem essa coragem, minhas chances eram mínimas e eu
ficava ali, no canto, torcendo para que alguma delas, alta ou baixa, bonita ou
feia, se aproximasse de mim e <i>me</i>
convidasse para dançar. Mas isso nunca aconteceu. Nenhuma vez. <i>Never ever!</i> Talvez, por isso, hoje tenho
uma imensa satisfação quando alguém me convida para dançar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Não,
eu não virei dançarino. Estou falando metaforicamente. Considero como convite
para dançar toda vez que uma pessoa discorda de mim. É minha oportunidade de
interagir, expressar minhas ideias, falar de minhas emoções, de certezas e
incertezas, de movimentos cadenciados e estéticos, de arte e técnica. Quando
alguém discorda de mim, não me aborreço, nem me ofendo. Não me descabelo. Os
olhos brilham, o sorriso se estampa no rosto, e começo os meus movimentos,
ensaiados e precisos ou espontâneos e instintivos. Às vezes, me esqueço do
tempo e do espaço. O foco de minha atenção recai inapelavelmente na escolha das
palavras e no prazer de ser diferente, pensar com meus próprios neurônios e
assinar, com letras garrafais, o meu próprio nome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Assusto-me,
ocasionalmente, quando percebo que os outros se sentem atropelados. Detesto ver
suas fisionomias carregadas, os lábios apertados e a fronte sisuda e pouco
amigável. É como se marcassem o passo com um pé esquerdo cafifento e intrometido
que insiste em me pisar um dos pés, na falta do cruzado de direita que poria
fim a minha alegria e tagarelice. Dizem que também o boxe é uma dança. Mas não
sou pugilista. A minha agilidade se resume ao compasso da fala. Não são
estocadas, nem golpes as palavras que uso, mas rodopio e coreografia. Sua
intenção é o sensível e o razoável. Seu desígnio e finalidade é o plausível, o
imaginável, o presumível!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Se
você me convida para dançar, presumo que goste, que queira, que lhe apeteça.
Vou logo lhe tomando a mão, os braços, a cintura, no balé das palavras, no
ritmo de nossa sintonia. Por um momento, nos tornamos namorados nos argumentos,
amantes nas ideias, afeiçoados no pensamento. E me enlevo tanto, que sou capaz de
só lhe soltar a mão, os braços e a cintura, quando estivermos extenuados de mil
rodopios e contradanças. A menos... a menos que, como me fez a primeira moça
que convidei para dançar uma quadrilha, a razão de meu trauma adolescente, você
fique vermelho de pudor e, com um muxoxo, se despeça com um tapa, bem dado, no
meu rosto encabulado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
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<br /></div>
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Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9463342.post-2019863726348794642017-04-29T09:24:00.002-07:002017-04-29T09:24:57.080-07:00Muffins de graça<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="PT-BR">Milton L. Torres<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Quando
eu era estudante em Austin, no Texas, meu colega Hélvio Peixoto teve uma ideia
genial. Ele foi a uma das padarias da cidade e solicitou que os pães não
vendidos durante a semana fossem doados para os alunos estrangeiros da
universidade. O apelo conseguiu convencer os administradores da padaria, que
produzia uma espécie artesanal de pão e outras coisas que as padarias vendem.
Toda sexta-feira, portanto, um aluno passava na padaria e recolhia um saco de guloseimas.
Quem tinha essa responsabilidade, escolhia primeiro. Depois, levávamos tudo
para a casa de alguém e, ali, repartíamos o butim. É difícil dizer o que era
mais prazeroso, se comer os pães gratuitos ou a expectativa de que petisco
excepcional iria cair na minha vez de escolher.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> O
que mais me atraía era o pão italiano e os <i>muffins</i>
de cobertura criativa e sabores sortidos. Mas eu me contentava com qualquer
coisa que me coubesse. Eram tempos ingênuos em que as maiores preocupações eram
tirar uma boa nota na prova de grego ou levar as crianças para receber as
vacinas. Eram tempos parcimoniosos nos quais tínhamos que nos esforçar para
viver dentro do orçamento de um casal com filhos pequenos em que os dois
cônjuges estudavam. Mesmo assim, tínhamos a bem-aventurança dessa aventura
infantil, quase sobrenatural, em que nos reuníamos felizes e nos sentíamos o objeto
da mais elevada consideração do Pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Quem
dera se, agora, eu só tivesse que me preocupar com provas e vacinas! Quem dera
se eu ainda pudesse esperar um <i>muffin</i>
grátis toda sexta-feira! Quem dera se eu pudesse contar com amizades tão
sinceras e sentimentos tão casuais e despretensiosos! Quem dera se eu tivesse ainda
o coração tão inocente e inexperiente em perfídias. Quem dera eu tivesse o
mesmo contentamento! Quem dera!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> Talvez
você se lamente, hoje, das circunstâncias difíceis, do orçamentos modesto, da
vida frugal. Não o censuro. Por outro lado, eu lhe peço que não deixe que os
dissabores e decepções da vida o impeçam de apreciar o sabor do <i>muffin</i> gratuito quando ganhar um...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Miltonhttp://www.blogger.com/profile/01357536734689122089noreply@blogger.com0