por
Milton L. Torres, PhD
O
português é a língua oficial de oito países do mundo, espalhados em quatro
continentes. Estima-se que quase 250 milhões de pessoas falem o idioma. Depois
do Brasil, os países onde o português é mais falado são Moçambique (19
milhões), Portugal e Angola (11 milhões cada um) e Guiné Bissau (mais de um
milhão). Ao contrário do que muita gente pensa, o espanhol não é o parente mais
imediato do português, mas o galego, a última língua do tronco romântico a se
separar de nosso idioma. Trata-se de uma língua falada na Galícia, uma região
da Espanha, e nas áreas de imigrantes galegos na Argentina, Cuba e Uruguai.
Aliás, o nosso tronco linguístico se chama “romântico” porque tanto o galego
quanto o português são descendentes de uma língua agora extinta antigamente
chamada de romanço. De fato, o romanço era uma mistura de línguas
derivadas do latim vulgar e, por essa razão, o termo tinha conotação
pejorativa. De qualquer forma, o português do Brasil, sendo uma das línguas
mais nasais do mundo (juntamente com o francês e o polonês), merece mesmo a
denominação de língua romântica, uma vez que os antigos gregos, sempre muito
inteligentes, consideravam os sons nasais como os mais belos e sensuais de todos.
A
língua portuguesa reflete, em muitos sentidos, o espírito aglutinador de seus
falantes. Por causa das invasões mouras à Península Ibérica, região da Europa
onde se localiza Portugal, e devido à colonização portuguesa de vastas regiões
na América do Sul, África e Ásia, nossa língua entrou em contato com os falares
de diferentes regiões do mundo. Como resultado disso, nosso idioma acabou
enriquecido com inúmeras palavras oriundas do árabe, das línguas indígenas
brasileiras e das línguas africanas. De certa forma, o sincretismo observado em
nossas relações sociais transparece também em nossa forma de falar. Quem sabe
não foi justamente essa propensão de nossa língua que tornou o brasileiro essa
pessoa tão amistosa e tão disponível para a conversa fiada... Será que o
pensamento determina a língua ou, ao invés disso, a língua influencia o
pensamento? Independentemente de se tomar uma decisão a esse respeito, concordaremos
que a língua portuguesa constituiu o nosso jeito de ser, o nosso modo de
encarar a vida, a nossa própria alma coletiva e, por isso, como disse Jesus
Cristo, não nos resta alternativa senão deixar que a boca fale do que está
cheio o coração (Mt 12:34). Tente passar o soneto 11 de Camões para qualquer
outra língua e você vai entender o que eu quero dizer com isso. As contradições
implícitas numa “dor que desatina sem doer” ou num “solitário andar por entre a
gente”, parecem não fazer pleno sentido, a não ser quando vistas a partir do
jeito luso-brasileiro de encarar a vida. Assim, disse Fernando Pessoa: “minha
pátria é a língua portuguesa”. Não se importava que invadissem Portugal, desde
que não mexessem com ele. Mas isso não era egoísmo. No fundo, o escritor sabia
que, enquanto houvesse o nosso jeito de falar, não perderíamos a identidade, não
nos abateríamos diante dos infortúnios, não perderíamos a voz, nem nosso
reflexo no espelho.
Publicado originalmente no Nogueirense (9 de junho de 2013), jornal da cidade de Artur Nogueira, no interior de São Paulo (http://nogueirense.com.br/opiniao-qual-e-a-importancia-da-lingua-portuguesa/).
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