por Milton L. Torres
O que pesa mais? Um mês ou dez anos? Eu sei que você
será tentado a responder, à queima roupa, que o peso de dez anos ultrapassa, em
muito, o peso de um simples mês. Por favor, detenha-se. Não se precipite. Há
que considerar o que significam esses espaços de tempo. É possível que, no
impasse das épocas, a década não se compare ao mês...
De que década falamos? De que década poderíamos
falar? A última década? Os dez últimos anos de felicidade ingênua, atalhados
por situações de aflição e desapontamento, mas ainda válidos por causa dos
carinhos e cuidados, as pequenas e grandes demonstrações de afeto, os prazeres
só aparentemente passageiros e medíocres, os sacrifícios em prol de prêmios e
recompensas singelas, mas sempre, de alguma forma, gratificantes... Estes dez
anos cujo ciclo fechou há um mês: a década de construção, renovação, idas e
vindas, débitos e saldos, viagens para perto e para longe, para dentro e para
fora, para bodas e celebrações, ou simplesmente para cumprir planos e metas. É
essa época que não nos sai da memória, é dela que falamos. Falamos de dez anos
de sorriso nos lábios, emoção no peito e esperança à flor da pele. Foram
abraços apertados, olhos nos olhos, sempre acessíveis, sempre emparelhados para
deixar claro o alcance ilimitado da paixão e da loucura quase infantil de amar
com tanta intensidade, até a dor dos ossos. Como poderiam dez anos de presença
ser mais leves do que os meros trinta dias que compõem um mês? Talvez você ache
que nem precisa ler o resto, pois o peso dessa década arqueada com tantas
promessas e sonhos afunda e engole a balança de qualquer avaliação ligeiramente
justa ou totalmente imparcial...
Mas espere! De novo, é preciso não se precipitar.
Escute de que mês falamos. Atenção para estes trinta longos dias de silêncio e
solidão, sem que o telefone toque, sem que se ouça a voz do peito nem se veja a
fisionomia familiar. São trinta sofridos dias de reclusão, sorvidos, na
penumbra, como se fossem as gotas amargas de uma poção fatal, como se bebêssemos
as próprias lágrimas misturadas com fel e vinagre. Falamos da sufocante
verificação da falta. Falamos do mês sem, o mês vazio, o mês trôpego dos nossos
tropeções e quedas em que resvalamos na tristeza e na dor. Falamos de um mês,
abril, que se fechou, como fecha o céu em tempestade, como se fecha a cela dos
condenados, sem esperança de indulto ou recuperação. É o peso deste mês que a
nossa balança mede e, descalibrada como possa ser, não lhe é facultado dizer
outra coisa senão que este mês é o mais pesado de todos os que o antecederam
nestes dez, vinte, trinta anos... A balança não mente. Não ousa mentir. Não
ousa passar por alto o peso dos corações órfãos deste mês que pesa uma
tonelada, mil toneladas.
Nossa década não pode se transformar em mês. Não se
reduzirá jamais aos trinta curtos dias de uma fantasia que não podemos conceber.
Quem dera pudéssemos! Este mês vai, porém, se transformar em década. E, à
medida que seus dias inclementes avançarem, seu peso talvez se esvazie até o
tamanho do nada. Talvez! Provavelmente não.
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