Tuesday, February 13, 2018

Confissão


por Milton L. Torres

Nunca pensei que um dia eu me apaixonaria por um homem. Para falar a verdade, acho que era mais fácil eu me apaixonar por um cachorro, um time de futebol inteiro, uma aliá, a baiana do acarajé ou um bicho preguiça. Mas, exceto pelo cachorro, isso não ocorreu. Estou mesmo é apaixonado por um homem. Às vezes, sem qualquer motivo aparente, começo a pensar nesse rapaz alto, esbelto, de cabelos encaracolados e músculos perfeitos. Imagino se está feliz, se sua saúde vai bem, se seus sonhos estão se realizando, se está sorrindo ou chorando. Quando faz frio ou chove, temo por seu conforto. Se está escuro, sofro por sua segurança. Se é um dia de sol brilhante e temperatura agradável, fico pensando se está usando o famigerado protetor solar. Quando estou comendo, imagino se está com fome. Quando estou rodeado de pessoas que me abraçam e me fazem feliz, vislumbro se está sozinho, se recebeu pelo menos um abraço o dia todo, se alguém lhe disse o quanto é especial e como o meu coração bate forte quando penso nele. Até o gosto da comida que como ou a graça do filme a que assisto dependem de estar absolutamente garantido que esse objeto da minha afeição também se farta, também se diverte, também se emociona, também se condói e quer ser feliz como eu sou feliz quando penso nele, ou o vejo, ou o imagino, ou o sinto ao meu lado. Nunca pensei que outra figura, um tanto parecida com o que eu já fui ou sou, pudesse ter esse poder de mobilizar os meus sentimentos e me fazer esquecer de mim mesmo, todo concentrado que fico e dedicado ao propósito de vê-lo triunfante, feliz, realizado. Ainda mais hoje, ainda mais nestas 24 horas do dia 7 de fevereiro, em que eu sei que ele comemora mais um ano de vida e eu comemoro a luz, a respiração, o sentido. Não faz muito tempo que estamos juntos. Não na minha perspectiva. O que são vinte e poucos anos? Uma ninharia. O tempo de dois cãezinhos e uma úlcera no estômago. O que são vinte e poucos anos diante da enormidade do sentimento, do peso dessa afeição inquebrantável e irresistível? Já me falaram que alguns homens se dispõem a morrer por outros. A cada ano, a cada aniversário, o meu ceticismo diminui. Não sei se eu facilmente tomaria a decisão de morrer por ele, mas esse pensamento já me passou pela cabeça, o que é muito mais do que qualquer outro homem já mereceu de mim, tão forte é essa convicção de que estamos atados num laço inextricável de bem-querer. Confesso que minha vida seria agora um tanto vazia, oca de sentido, se não fosse pela presença dele ao meu lado. Confesso que nunca amei a nenhum outro homem como eu o amo. Confesso. Confesso que o meu filho representa mais para mim do que qualquer pai poderia querer que o filho lhe representasse, quer faça chuva ou sol, quer tenhamos saúde ou doença, quer a gente viva ou morra, quer a gente ame ou seja o objeto de ódios injustificáveis e mesquinhos. A nada disso eu temo. De nada disso eu fujo. Se a felicidade da vida reside em um único e ardente desejo. O que eu desejo hoje é um feliz aniversário para o meu filho querido!