por Milton L. Torres
Nunca
pensei que um dia eu me apaixonaria por um homem. Para falar a verdade, acho
que era mais fácil eu me apaixonar por um cachorro, um time de futebol inteiro,
uma aliá, a baiana do acarajé ou um bicho preguiça. Mas, exceto pelo cachorro,
isso não ocorreu. Estou mesmo é apaixonado por um homem. Às vezes, sem qualquer
motivo aparente, começo a pensar nesse rapaz alto, esbelto, de cabelos
encaracolados e músculos perfeitos. Imagino se está feliz, se sua saúde vai
bem, se seus sonhos estão se realizando, se está sorrindo ou chorando. Quando
faz frio ou chove, temo por seu conforto. Se está escuro, sofro por sua
segurança. Se é um dia de sol brilhante e temperatura agradável, fico pensando
se está usando o famigerado protetor solar. Quando estou comendo, imagino se
está com fome. Quando estou rodeado de pessoas que me abraçam e me fazem feliz,
vislumbro se está sozinho, se recebeu pelo menos um abraço o dia todo, se
alguém lhe disse o quanto é especial e como o meu coração bate forte quando
penso nele. Até o gosto da comida que como ou a graça do filme a que assisto
dependem de estar absolutamente garantido que esse objeto da minha afeição
também se farta, também se diverte, também se emociona, também se condói e quer
ser feliz como eu sou feliz quando penso nele, ou o vejo, ou o imagino, ou o
sinto ao meu lado. Nunca pensei que outra figura, um tanto parecida com o que
eu já fui ou sou, pudesse ter esse poder de mobilizar os meus sentimentos e me
fazer esquecer de mim mesmo, todo concentrado que fico e dedicado ao propósito
de vê-lo triunfante, feliz, realizado. Ainda mais hoje, ainda mais nestas 24
horas do dia 7 de fevereiro, em que eu sei que ele comemora mais um ano de vida
e eu comemoro a luz, a respiração, o sentido. Não faz muito tempo que estamos
juntos. Não na minha perspectiva. O que são vinte e poucos anos? Uma ninharia.
O tempo de dois cãezinhos e uma úlcera no estômago. O que são vinte e poucos
anos diante da enormidade do sentimento, do peso dessa afeição inquebrantável e
irresistível? Já me falaram que alguns homens se dispõem a morrer por outros. A
cada ano, a cada aniversário, o meu ceticismo diminui. Não sei se eu facilmente
tomaria a decisão de morrer por ele, mas esse pensamento já me passou pela
cabeça, o que é muito mais do que qualquer outro homem já mereceu de mim, tão
forte é essa convicção de que estamos atados num laço inextricável de
bem-querer. Confesso que minha vida seria agora um tanto vazia, oca de sentido,
se não fosse pela presença dele ao meu lado. Confesso que nunca amei a nenhum
outro homem como eu o amo. Confesso. Confesso que o meu filho representa mais
para mim do que qualquer pai poderia querer que o filho lhe representasse, quer
faça chuva ou sol, quer tenhamos saúde ou doença, quer a gente viva ou morra,
quer a gente ame ou seja o objeto de ódios injustificáveis e mesquinhos. A nada
disso eu temo. De nada disso eu fujo. Se a felicidade da vida reside em um
único e ardente desejo. O que eu desejo hoje é um feliz aniversário para o meu
filho querido!