Traduzido para o inglês
por Peter Constantine
Traduzido para o
português pelos alunos do curso de Tradutor e Intérprete do UNASP
sob a supervisão do
Prof. Milton L. Torres
Savitsky, o
comandante da sexta divisão, se levantou, quando me viu, e eu fiquei espantado
pela imponência de seu corpo gigantesco. Ele se levantou, com suas bombachas
roxas que dividiam a cabana em duas assim como uma bandeira divide o céu; a
boina carmesim estava inclinada para o lado e as medalhas pregadas no peito.
Exalava perfume e um enjoativo frescor de sabão. Suas pernas compridas se
assemelhavam a duas garotas coladas uma na outra pelos ombros com botas de
montaria.
Ele sorriu para
mim, bateu com o chicote na mesa e pegou o memorando que o chefe da repartição
havia escrito. Era um pedido para Ivan Chesnokov avançar para
Chugnov-Dobryvodka com o regimento sob seu comando e, quando encontrasse o
inimigo, o destruísse imediatamente. "Por essa destruição", Savitsky
começou a escrever, enchendo toda a folha, "considero o próprio Chesnokov
o completo responsável. Seu descumprimento vai implicar nas medidas punitivas
mais severas; em outras palavras, vou lhe dar um tiro ali mesmo. Desse fato,
camarada Chesnokov, tenho certeza que você não vai duvidar, já que faz bastante
tempo que você trabalha comigo na linha de frente.
O comandante da
Sexta Divisão assinou a ordem com um floreio, jogou-a para o ordenança e voltou
os olhos acinzentados para mim, que dançavam de alegria.
Entreguei-lhe o documento referente a
minha transferência para a repartição daquela divisão.
“Cuide da
papelada!” disse o comandante da divisão. “Cuide da papelada e certifique-se de
que esse homem se voluntarie para todas as diversões, exceto as do tipo
frontal. Você sabe ler e escrever?”
"Sei",
respondi, morrendo de inveja da força e do vigor da sua juventude. "Eu me
formei em direito na Universidade de Petersburgo." "Então você é um
daqueles almofadinhas!", ele gritou com uma gargalhada. "Com óculos
no nariz! Ah, sua criatura miserável! Eles mandam essa gente para cá e nem
perguntam se queremos! Aqui você leva porrada só de usar óculos! Então, você
acha que pode viver com a gente, ein?" "Sim, acho", respondi e
fui à vila com o intendente a fim de procurar um lugar para ficar.
O intendente carregava a minha maleta
nos ombros. A rua da vila estava diante de nós, e o sol poente, redondo e
amarelo como uma abóbora, dava seu último fôlego rosado.
Chegamos a uma barraca com guirlandas
pintadas. O intendente parou e, de repente, sorrindo com culpa, disse: “Cara, a
gente detesta óculos aqui! Não há nada que você possa fazer!
Aqui eles comem
vivo um homem de muitos títulos, mas se você viola uma moça, a mais purinha, aí
sim, você vira o cara, para os soldados.
Ele hesitou por
um momento, com a minha maleta ainda nos ombros, chegou bem perto de mim. De
repente, afastou-se em desespero, correndo ao quintal mais próximo. E lá
estavam os Cossacos sentados nos feixes de feno, barbeando uns aos outros.
“Soldados!” O intendente falou, colocando a maleta no chão. “De acordo com a
ordem dada pelo camarada Savitsky, vocês são obrigados a aceitar que este homem
se aloje com vocês. E nada de brincadeira, por favor, porque este homem já
sofreu muito nas batalhas acadêmicas.”
O intendente corou e saiu marchando
sem olhar para trás. Bati continência para os Cossacos. Um loiro cabeludo com a
cara linda e típica de Ryazan, foi até minha maleta e a jogou na rua. Então,
ele virou as costas para mim e, com uma destreza fora do comum, começou a falar
palavrões.
"Calibre zero-zero!" Um
velho cossaco gritou, rindo bem alto. "Disparou rapidinho!"
O jovem foi
embora depois de gastar suas artimanhas limitadas. Eu me agachei e comecei a
juntar os manuscritos e as roupas velhas e puídas que haviam caído da maleta.
Eu juntei tudo e levei para o outro lado do pátio. Uma grande panela de
ensopado de porco estava em cima de tijolo na frente da choupana. Subia uma
fumaça que parecia a fumaça de uma choupana de uma daquelas vilas que a gente
viu na infância. A fome se misturava com uma intensa solidão em mim. Eu cobri a
minha pequena maleta rasgada com feno. Fiz dela um travesseiro, e me deitei no
chão para ler o discurso de Lênin no segundo congresso do comitê, que tinha
saído no Pravda. O sol se pôs sobre mim entre as colinas irregulares. Os
cossacos ficavam pulando as minhas pernas. Aquele rapaz caçoava de mim o tempo
todo. A pronta resposta lutava para me alcançar por caminhos tortuosos, mas não
conseguia. Coloquei o jornal de lado e fui até a dona da casa, que estava fiando
na varanda.
"Dona", eu disse, "eu
preciso de um rango".
A velha levantou as escleras
lacrimejantes dos olhos quase cegos para mim e abaixou novamente.
"Camarada", ela disse,
depois de um curto silêncio. "Isso tudo só me dá vontade de me
enforcar!"
Maldição!
Murmurei frustrado e lhe dei um empurrão nas costas com a mão. “Eu não estou no
clima para discussão!” Eu me virei e vi, por perto, o sabre de alguém. Um ganso
altivo andava a passos largos pelo quintal, arrumando placidamente suas penas.
Eu peguei o ganso e pisei nele. A cabeça estralou sob minha bota, quebrada e
sangrando. O pescoço branco ficou estirado na terra e as asas se dobraram sobre
o pássaro abatido.
"Maldição!" Eu disse,
cutucando o ganso com um graveto. "Vá assá-lo pra mim, dona."
A cegueira e os óculos da velha
brilharam na luz, e ela pegou o pássaro, enrolou-o com o avental e o levou até
a cozinha.
“Camarada,” ela
disse depois de um momento de silêncio. “Isso me dá vontade de me enforcar.” E
bateu a porta quando entrou. No quintal, os cossacos já estavam sentados ao
redor da panela. Eles estavam estáticos, sentados eretos como sacerdotes
pagãos, sem sequer ter dado uma única olhada para o ganso.
“Esse camarada
vai se dar muito bem aqui”, disse um deles, piscou e pegou um pouco de sopa de
repolho com a colher. Os cossacos começaram a comer com a graça contida de um
grupo de fazendeiros respeitosos. Eu limpei a espada com a areia, saí do pátio,
mas logo voltei, me sentindo angustiado. A lua enfeitava o quintal como uma bijuteria.
"Ei, irmão!" Surovkov, o
mais velho dos cossacos, me disse de repente. "Sente-se conosco e coma um
pouco disso até que seu ganso fique pronto!"
Ele pegou uma colher extra da sua
bota e a entregou para mim. Engolimos ruidosamente a sopa de repolho e comemos
a carne de porco.
"Então, o que eles estão
escrevendo no jornal?", o jovem camarada de cabelos louros me perguntou e
se afastou para abrir espaço para mim. "No jornal, Lênin escreve",
eu disse, pegando meu Pravda, "Lênin escreve que agora há uma
escassez geral."
Eu falava tão alto, que parecia
surdo. Lia, triunfante, o discurso de Lênin para os Cossacos.
Mas a noite me envolveu na umidade
macia de seus lençóis de crepúsculo, e colocou as mãos maternais em minha
fronte.
Fiquei feliz, ao terminar de ler,
esperando algum efeito. Eu me deliciava com a misteriosa curva da linha reta de
Lênin.
"A mentira tem pernas
curtas," Surovkov falou quando terminei. "Não é tão fácil tirar
qualquer verdade dessa pilha de bobagens, mas Lênin saca logo de primeira.
Parece uma galinha pegando o grão de milho."
Foi o que Surovkov, comandante do
esquadrão, disse sobre Lênin e, depois, fomos dormir no palheiro. Seis de nós
dormimos ali, aquecendo-nos uns nos outros, nossas pernas emaranhadas, sob os
buracos do telhado que deixavam entrar as estrelas.
Sonhei e vi mulheres nos meus sonhos.
Só que meu coração, vermelho de morte, gritava e sangrava.