Tuesday, August 28, 2018

De que é feito o universo?

por Milton L. Torres


De que é feito o universo? Tales falava em água; Anaxímenes, em ar. Na perplexidade de quem não sabia explicar o inexplicável, Anaximandro inventou um componente misterioso e indefinível a que chamou de apeiron! Pitágoras disse que o nosso universo era formado de números; e Heráclito, de fogo e movimento. Parmênides, mais próximo da verdade, imaginou um universo feito de ilusões. Zenão queria que esse elemento básico que constituiria todas as coisas fosse o tempo, nosso velho conhecido de barbas brancas e olhar enigmático. Guloso, Empédocles quis logo uma constituição quádrupla, e cogitou num universo inteiramente formado por fogo, terra, água e ar, uma espécie de bolo cósmico sem glacê. Para Demócrito, tudo não passava de átomo, vazio e acaso. Mas o filósofo mais sábio, o que desvendou realmente esse mistério, foi aquele que disse que o nosso universo é feito de amor e ódio. Assim, trombamos todos os dias com essas duas forças primordiais e irresistíveis, e somos arrastados por uma ou outra...

Se a vida fosse como um dispositivo da Apple

por Milton L. Torres

Se a vida fosse como um dispositivo da Apple, a gente sempre faria compras no mesmo supermercado. A gente se alimentaria não para comer, mas para gastar. Nada de batatas fritas, feijoada ou bife a cavalo. Só menu de degustação. Calçaríamos os sapatos pelo calcanhar e nunca pelos dedos do pé, abotoaríamos a camisa pelas costas, usaríamos o relógio no tornozelo, fecharíamos o zíper pelo lado de dentro e, na medida do possível, deixaríamos as mãos sempre livres para nos aplaudir a nós mesmos por estarmos fazendo tudo isso de um modo original. Todos seríamos corintianos e usaríamos um tapa-olhos. Ou dois! Afinal, para que criticar a perfeição? No dia do aniversário, tocaríamos um iTune e gritaríamos “Oba!” Só conversaríamos com quem tivesse a cor certa, a voz certa, o carro certo, a profissão certa e a conta bancária certa. Se a vida fosse como um dispositivo da Apple, a gente talvez se divertisse menos, mas ia dar uma ótima selfie

Cada louco é um louco

por Milton L. Torres


Ontem foi o dia do psicólogo. Parabéns para eles! Quanto a mim, prefiro me embolar com os meus traumas e neuras. É que, para mim, o mais divertido na vida, o que me faz sentir vivo, febril, febricitante, é justamente enfrentar esses traumas, próprios e alheios. Toda vez que me deparo com uma dor profunda ou inexplicável, no coração ou na cabeça, de quem quer que seja, é como se me defrontasse com uma montanha de vertigem, tão alta quanto a angústia e tão funda quanto a imaginação, convidativa. Por isso, sou como um alpinista das emoções, desejos e pensamentos que cortam a minha vida e se embaralham com ela. Assim passo a vida, assim me divirto (ou não), mas, no plano humano, ninguém me entende melhor do que eu mesmo... Cada louco é um louco! Esta é a minha loucura. Favor não atrapalhar (