PAVIANI, Jayme. Platão & a
educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 126 p.
por Milton L. Torres
Paviani (2008, p. 7-10) reconhece as dificuldades de
se ler Platão, mesmo assim, defende os benefícios de um retorno ao antigo
filósofo. Para ele (p. 11-13), Platão foi uma importante testemunha da
condenação de Sócrates, desapontamento que o levou a viajar pelo mundo a fim de
testar suas ideias educacionais e filosóficas. Apesar de sua desilusão com os
maus resultados que teve, inventou a dialética e promoveu o diálogo a gênero
literário. Seu pensamento foi especialmente marcado pela tensão entre o
concreto e o abstrato, seu interesse metafísico, sua propensão pedagógica e
ética, e seu idealismo. Por isso, Paviani (p. 23) indaga: como ler Platão hoje?
Sua resposta passa por assinalar problemas contemporâneos que são similares aos
da Grécia antiga: pensar filosoficamente a educação como problema de Estado,
para formar moral, política, dialética e filosoficamente os cidadãos.
Os diálogos filosóficos foram o principal instrumento
platônico para discutir a educação, mas assumiram caráter distinto a depender
da época de sua produção. Os diálogos aporéticos da juventude contemplam as
grandes questões sem lhes propor uma solução final; os diálogos da maturidade
revelam o idealismo platônico; enquanto que os últimos diálogos, mais
comedidos, apontam para certa desilusão política. Todos eles exibem, porém,
algumas características consistentes: o objetivo educacional, a atitude irônica
e a tendência interrogativa (PAVIANI, 2008, p. 29-33).
A educação moral em Platão depende do conceito de arete, o ideal da virtude heroica, e da
ideia de natureza (essencialismo). Trata-se de processo ético e político. A
forma como o filósofo se posiciona a esse respeito reflete o ambiente
educacional de Atenas, no qual havia certa dependência da ideia de uma paideia (“formação”) intrinsecamente
ligada à poesia de Homero (PAVIANI, 2008, p. 39-42) e o advento dos sofistas,
criadores de uma pedagogia utilitarista, de quem Platão deplora a ênfase
retórica e o relativismo (p. 43-46). É o momento da profissionalização e
institucionalização da educação e Platão, por isso, se rebela contra a educação
tradicional, propondo, em seu lugar, a fundamentação metafísica para um projeto
educacional (PAVIANI, 2008, p. 47-51).
No embate do Sócrates platônico com os sofistas, a
grande questão é se é possível educar. O otimismo e o relativismo destes
contrastam com o toque aparente de ceticismo deste. Paviani (2008, p. 55)
enfatiza que parte da razão pelo fracasso educacional de nossa época reside, em
certa medida, de não termos conseguido imitar o entrelaçamento platônico entre
formação intelectual e enfoque ético. Apesar de suas dicotomias nem sempre
defensáveis, parece que Platão, segundo Paviani (2008, p. 57-64), representou
um meio termo entre o relativismo (de Protágoras) e a objetividade excessiva (de
Parmênides).
Paviani (2008, p. 65-69) lamenta o juízo equivocado
de Platão que o levou a rejeitar, na República,
a arte como parte do processo educativo: a ignorância de que poesia é ficção e
não realidade. O lado positivo desse equívoco foi a proposta de uma reforma
educacional de base metafísica que subordinou a arte, suplantada pela
filosofia, à episteme (seu antídoto
contra o relativismo e a mimese), desbancando o valor do senso comum. O lado
negativo foi a implantação de uma censura abrupta que privilegiou o ético,
político e pedagógico, em detrimento do estético. De qualquer forma, o
resultado foi a essencialização da função ética, política e pedagógica da
educação.
Para isso, foi necessário que Platão criasse uma
metodologia a partir da influência de conceitos socráticos como os de maiêutica
e anamnese. Privilegiando a razão e as situações concretas, o filósofo
desenvolve uma teoria da aprendizagem que afirma que, por meio do respeito às
etapas e da formação de hábitos, é possível ensinar. Essa ideia da educação
como uma espécie de treinamento é especialmente perceptível em Leis, sua última obra. Também se
percebe, em Platão, uma preocupação constante com a retórica sofista,
considerada perigosa por sua ênfase relativista e seu menosprezo à
racionalidade, à dialética e à dimensão divina (PAVIANI, 2008, p. 65-81).
O amor seria, então, o objeto da pedagogia, dada a relação entre eros e logos. De fato, no Banquete, o Sócrates platônico define o amor como uma espécie de busca pedagógica (PAVIANI, 2008, p. 82-86). Nesse sentido, o uso platônico dos mitos rompe momentaneamente com a dialética e reflete sua vocação para a narrativa. O mito da caverna, por exemplo, fornece-lhe um núcleo metafísico para sua concepção epistemológica, ética e política. Sua teoria pedagógica acaba, portanto, valorizando a reflexão, demonstrando interesse político, estimulando as ciências, promovendo a dialética, assumindo feições idealistas e desconfiando da ideia de prazer (PAVIANI, 2008, p. 91-97).
Segundo Paviani (2008, p. 99-107), os principais diálogos platônicos sobre o tema da educação são o Mênon (sobre a virtude e a anamnese), o Protágoras (sobre a virtude e a crise educacional), a República (um seminário sobre ideologias) e Leis (um projeto pedagógico), sendo suas características mais comuns a estrutura dialética, a superação de contradições e aporias, e a passagem da opinião para o conhecimento científico. De modo geral, Paviani trata, com bastante destreza e rara capacidade de síntese, a perspectiva platônica da educação e nos dá uma visão panorâmica e coerente de seu projeto educacional.
O amor seria, então, o objeto da pedagogia, dada a relação entre eros e logos. De fato, no Banquete, o Sócrates platônico define o amor como uma espécie de busca pedagógica (PAVIANI, 2008, p. 82-86). Nesse sentido, o uso platônico dos mitos rompe momentaneamente com a dialética e reflete sua vocação para a narrativa. O mito da caverna, por exemplo, fornece-lhe um núcleo metafísico para sua concepção epistemológica, ética e política. Sua teoria pedagógica acaba, portanto, valorizando a reflexão, demonstrando interesse político, estimulando as ciências, promovendo a dialética, assumindo feições idealistas e desconfiando da ideia de prazer (PAVIANI, 2008, p. 91-97).
Segundo Paviani (2008, p. 99-107), os principais diálogos platônicos sobre o tema da educação são o Mênon (sobre a virtude e a anamnese), o Protágoras (sobre a virtude e a crise educacional), a República (um seminário sobre ideologias) e Leis (um projeto pedagógico), sendo suas características mais comuns a estrutura dialética, a superação de contradições e aporias, e a passagem da opinião para o conhecimento científico. De modo geral, Paviani trata, com bastante destreza e rara capacidade de síntese, a perspectiva platônica da educação e nos dá uma visão panorâmica e coerente de seu projeto educacional.
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