Wednesday, June 07, 2017

Mensagem que mandei a uma aluna que me perguntou se eu me lembraria dela depois de formada

A vida é mesmo cheia de surpresas. Nunca pensei que, nas voltas que ela dá, eu viesse a me tornar amigo de uma descendente de italianos com cara e atitude de japonesa, mas que gosta de mandarim e fala inglês. O mais interessante é que você consegue fazer tudo isso sem perder o fôlego ou a pose. Aliás, pose não lhe falta nunca, até quando está atrasada ou visivelmente na contramão dos fatos. Não sei se somos do mesmo planeta. Já peguei você em rasantes voos em Marte, Júpiter ou algum satélite perdido no espaço. Ainda bem que você tem suas estratégias para retornar a Houston, nem que seja na cauda do cometa ou no tapete de Aladim. Mas você não precisa sofrer de nenhum complexo de inferioridade. Sonhar de olhos abertos é uma arte que poucos conseguem cultivar. E, no cultivo desse legume chamado sonho, você parece especialista. Aliás, eu sempre soube que os japoneses eram bons de horta! O surpreendente é que, às vezes, me pego catando as sementes que você plantou. O que eu quero dizer é que eu também gosto de me perder nos anéis de Saturno ou em alguma terra distante: na Grécia, de preferência. É, por isso, que – depois que você se formar e for embora – tenho a esperança de nos encontrarmos com frequência. É só a gente programar nossos devaneios para a mesma hora ou batcanal.
Será impossível não me recordar de você. Afinal de contas, foram muitas as encruzilhadas nas quais nos encontramos, de repente, sem nos dar conta disso. Às vezes, você abandonou o navio antes de ele afundar. Outras vezes, entretanto, você aguentou o tranco e ficou até o fim. De qualquer forma, você foi sempre leal, amiga, paciente, animada e presente (ainda que, às vezes, só de corpo). Sempre quis o melhor para si mesma e para os outros. Nunca foi desleal, autoritária ou impertinente. Podia continuar aqui no UNASP e fazer dez graduações que continuaríamos amigos, pois os nossos santos se batem, pássaros da mesma pena que somos, embora cada um voe à sua maneira e para destinos nem sempre coincidentes.
Infelizmente, daqui a pouco você terá que partir para seus voos de ave solitária e, a partir de então, dona do próprio nariz (ou será que eu devia dizer do próprio bico?). Vai ficar um pequeno vazio no coração de cada um que conviveu com você ou participou de uma boa briga com a italiana desse cruzado forte de esquerda. Quando você tiver comprado aquela casa com a qual você está sonhando e que já descreveu para mim, saiba que haverá, em algum canto da sala ou da cozinha, um pequeno espaço cheio de ar que pode muito bem representar esse vazio do qual acabei de falar. Nunca mais seremos os mesmos. Nunca mais conviveremos todos juntos e felizes como quando estivemos aqui no UNASP. Seus amigos partem para suas próximas aventuras, eu fico aqui imaginando o que vocês estão fazendo da vida e você parte em busca desses sonhos com os quais você se envolve tão fácil e completamente. Pode ir, sonhadora! Você tem a minha torcida. Desejo mais o seu sucesso do que a vitória do Brasil na copa.

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