por Milton L. Torres
Carl von
Clausewitz foi um militar da Prússia que ajudou a negociar o tratado de paz
entre a Rússia, a Prússia e a Grã-Bretanha, o que ajudou essas nações a deter
Napoleão Bonaparte. Como homem acostumado à linha de frente, von Clausewitz
sabia o que era a guerra. Por isso mesmo, declarou de forma enfática: “se
queremos que a mente emirja ilesa dessa luta renhida com o invisível, duas
qualidades são indispensáveis: um intelecto que, mesmo na hora mais negra e
tenebrosa, consiga reter o brilho da luz interior que o leva à verdade; e a
coragem para seguir essa luz tênue aonde quer que ela o leve”. Eu acho que o
militar superestimou o poder dessa luz interior. Em nenhuma circunstância,
conseguiremos passar incólumes pela vida. E nem deveríamos querer isso. As
marcas que carregamos dessa luta nos ajudam a medir o grau de nosso
enlouquecimento e a magnitude de nossas realizações. A luz não impede a dor;
ela, ao contrário, não faz, em certas ocasiões e só em certas ocasiões, nada
mais do que ofuscar os olhos alheios de modo que não consigam discernir que
trazemos na alma os hematomas de sangrentos golpes.
O meu amigo
Joubert Castro Perez sabe muito bem o que inventar para sobre-viver! Sobre-viver,
com hífen. Entenderam? O que eu mais gosto nele é que ele não faz nenhuma
pretensão de possuir essa luz tênue e individual de verdade, embora a tenha! Ele
não se faz de medida para medir os outros. Ao contrário disso, ele se apresenta
a todos os que o conhecem com as marcas de suas loucuras e realizações. Dá para
ver em cada ferida, sem tentativas de ocultação, o quanto tudo isso lhe custou.
Dá para ver na carne viva! E quando se vive à flor da pele, a gente consegue
sentir, depressa e prontamente, a dor do outro. Daí vem essa sensibilidade
sutil e aérea que o Joubert leva a tiracolo, sua tentativa não de esconder ou
abafar, mas de elevar o corpo magro à altura protegida das ideias e dos ideais.
Se quisermos
passar ilesos pela vida, a única alternativa que nos resta é a solidão. Mas não
foi isso que o Joubert quis. Em vez disso, de vez enquanto, ele se recolhe à
companhia do caniço e das iscas. Ali recupera o brilho tênue da verdade e assim
continua a nos ofuscar com sua sabedoria despojada e simples, com o sorriso
luminoso de quem, em sua complacência, já viveu a vida e sabe o segredo, o
segredo arcano que ninguém mais conhece, o enigma que ainda nos intriga. Pois
não se enganem: o Joubert sabe das coisas! O Joubert sabe tudo!
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