Milton L. Torres
Quando
eu era estudante em Austin, no Texas, meu colega Hélvio Peixoto teve uma ideia
genial. Ele foi a uma das padarias da cidade e solicitou que os pães não
vendidos durante a semana fossem doados para os alunos estrangeiros da
universidade. O apelo conseguiu convencer os administradores da padaria, que
produzia uma espécie artesanal de pão e outras coisas que as padarias vendem.
Toda sexta-feira, portanto, um aluno passava na padaria e recolhia um saco de guloseimas.
Quem tinha essa responsabilidade, escolhia primeiro. Depois, levávamos tudo
para a casa de alguém e, ali, repartíamos o butim. É difícil dizer o que era
mais prazeroso, se comer os pães gratuitos ou a expectativa de que petisco
excepcional iria cair na minha vez de escolher.
O
que mais me atraía era o pão italiano e os muffins
de cobertura criativa e sabores sortidos. Mas eu me contentava com qualquer
coisa que me coubesse. Eram tempos ingênuos em que as maiores preocupações eram
tirar uma boa nota na prova de grego ou levar as crianças para receber as
vacinas. Eram tempos parcimoniosos nos quais tínhamos que nos esforçar para
viver dentro do orçamento de um casal com filhos pequenos em que os dois
cônjuges estudavam. Mesmo assim, tínhamos a bem-aventurança dessa aventura
infantil, quase sobrenatural, em que nos reuníamos felizes e nos sentíamos o objeto
da mais elevada consideração do Pai.
Quem
dera se, agora, eu só tivesse que me preocupar com provas e vacinas! Quem dera
se eu ainda pudesse esperar um muffin
grátis toda sexta-feira! Quem dera se eu pudesse contar com amizades tão
sinceras e sentimentos tão casuais e despretensiosos! Quem dera se eu tivesse ainda
o coração tão inocente e inexperiente em perfídias. Quem dera eu tivesse o
mesmo contentamento! Quem dera!
Talvez
você se lamente, hoje, das circunstâncias difíceis, do orçamentos modesto, da
vida frugal. Não o censuro. Por outro lado, eu lhe peço que não deixe que os
dissabores e decepções da vida o impeçam de apreciar o sabor do muffin gratuito quando ganhar um...
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