por Milton L. Torres
Se todos os alunos que eu tiver
de agora em diante, até a minha aposentadoria, resolverem me odiar e decidirem me
fazer todo tipo de pirraça e desfeita em sala de aula, no cômputo geral, eu
direi que fui feliz como professor. O afeto que recebi até hoje dos alunos é
avassalador e garante que nenhum complexo de inferioridade me persiga. Posso
dizer, de boca cheia, que fui tão amado quanto amei!
Se você já leu alguma linha que
eu tenha escrito no passado, sabe duas coisas: que eu sou meio dramático para
falar das minhas experiências como professor e que sou absolutamente sensível
ao que se passa na sala de aula, especialmente quando isso afeta os meus alunos.
Aliás, considero os momentos da aula como os mais sagrados do dia. Nada me dá
mais prazer do que ser testemunha do despertar das mentes jovens para as
línguas, a literatura, a filosofia e a vida! Afinal de contas, o que são essas
coisas senão a mais autêntica manifestação da existência?
Se você não entende por que eu
estou falando dessas coisas agora, eu explico. Ontem alguns alunos se
organizaram para me fazer uma demonstração de carinho, que poderia ter sido uma
homenagem por eu ter sido seu professor conselheiro deste semestre, ou pelo
fato de meu aniversário ter sido há alguns dias, ou uma despedida do
coordenador que deixará a função no final do ano. Não foi nada disso. Foi uma
espontânea e, para mim, comovente revelação de carinho. E sabe de uma coisa?
Fiquei surpreso, mas não espantado! Não se pode esperar senão carinho de quem é
carinhoso. Não se pode esperar senão o máximo de quem é o melhor!
Se você ainda continua perdido e
sem qualquer noção quanto às razões por que estou aqui ruminando e saboreando
um momento inesquecível, é porque você não estava lá. Não sabe por que se leem
os clássicos, não entende por que é importante encontrar alguém para amar, não
veste camisa branca de manga comprida, não entende, não sabe “além da matéria”,
nunca lhe disseram “da face da terra”, nunca os alunos o chamaram, em latim, de
“arquiteto do próprio destino”, nem de “capitão”, nem de “o cara”! E,
possivelmente, nunca nenhum aluno tenha tido a coragem de encará-lo de frente e
dizer: - Você é o professor chato mais legal que já passou na nossa vida! Nem
deve ter ouvido a palavra FAVORITO no contexto da relação professor-aluno. Pois
eu, sim! Eu estive lá! Eu vi com os próprios olhos! Eu ouvi com os meus
ouvidos! Eu senti com este coração que bate, mas, às vezes, bate desordenado, skipping a beat!
Se você ainda não consegue me
entender... Eu lamento. Se após se, não é possível iniciar outro parágrafo com
a conjunção condicional. Paremos de nos referir às hipóteses e sejamos claros:
você não entende muito de educação e não sabe o que é ser professor de alunos
excepcionais que entendem das palavras, das línguas, dos livros, dos
pensamentos e, principalmente, dos corações! Obrigado, Franklim, Taila, André,
Julie, Yuri, Adriane, Ana, Jeyce, Jeynifer, Dri, Emiily, Amanda, Camilla,
Agatha e Giovana, os melhores alunos que um professor poderia desejar. É por
causa de vocês que posso dizer que tenho o melhor emprego do mundo, melhor do
que o estrelato na TV, melhor do que a cátedra das ciências, melhor do que o hub do vale do silicone, melhor do que o
bisturi do médico e do que a aquarela do pintor, melhor do que o frenesi da
bolsa de valores! Sem dor no estômago, sem noites em claro, sem reservas quanto
ao futuro, só com boas emoções, muitas emoções...
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