Eu fui missionário no Alasca e
escrevi um livro sobre minha vida naquele lugar inóspito de invernos rigorosos.
Uma coisa que não pus no livro, mas deveria ter posto, é a descrição das
cabanas do Alasca. Ali, as pessoas não compravam simplesmente uma casa. Na
época em que vivi no Alasca, esperava-se que o dono construísse a própria cabana,
geralmente de madeira e, à semelhança de uma palafita, elevada acima do terreno
para que o calor dela não derretesse o chão de permafrost, uma mistura de gelo e terra.
Um verdadeiro morador daquela
região gelada sentia uma empáfia difícil de conter quanto ao resultado
confortável de seus esforços de construtor. E, mais do que isso, sentia orgulho
do fato de que as portas nunca eram trancadas e de que havia sempre um aviso,
em placa elegantemente pintada, em papel de caixa improvisado, em madeira ou em
latão, mas sempre visível, que dizia: “entre, use o que precisar e deixe tudo como
encontrou”.
É que as pessoas daquele lugar
virtualmente abandonado por Deus tinham a plena consciência de que a vida fora
de algum abrigo providencial não se sustinha por muito tempo. O inferno gelado invadia
e entorpecia os membros, a cabeça e os órgãos internos. Era como se, o tempo
todo, cortejássemos a morte. Em uma questão de minutos, perdiam-se a compostura
e a vida. Por isso, essa hospitalidade forçosa, infalível, inapelável.
O que eu aprendi no frio debilitante
do polo norte é que as pessoas deviam ser como cabanas do Alasca. Um encontro com
o outro é como uma reação química que produz calor e energia. Quem dera se, em
nossos encontros, o outro abrisse a porta do nosso coração para nele se esquentar sob a
temperatura afável de sua lareira, deixando, então, tudo como encontrou. Afinal de
contas, o mundo lá fora é hostil e traiçoeiro. Só o aconchego de um coração
terno pode nos proteger do vento frio que sopra por toda parte, dos vendavais e
tempestades, das nevascas, geadas e granizo, da vida! Da próxima vez que você
ouvir os uivos do temporal que se aproxima, experimente fazer-se de cabana para
quem estiver sob ameaça da borrasca. Provavelmente, o calor desse encontro será
suficiente para aquecer a ambos...
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