por Milton L. Torres
Pare
e pense: o que é viver? Quais são as coisas que faço que me deixam ter a
certeza de que estou vivo? Comer? Namorar? Andar de bicicleta? Dançar? Beber?
Fumar? Comprar uma dúzia de ovos no supermecado? Será que uma dessas coisas
prova mesmo que estou vivo? Será que todas elas juntas provariam isso?
O
que é um dia perdido? Um dia em que não comi, não namorei, não bebi, nem fumei?
Quais são os ingredientes necessários em 24 horas para que, no final do dia, eu
possa dar um soco no ar e dizer: - Hoje eu vivi!?
Ou será
que a vida é definida pelos negativos? Eu estou vivo porque não tenho doenças,
não estou sofrendo, não estou na cadeia, não quebrei a perna, não estou de
luto, não arranquei um dente e, por todas essas razões, eu posso me esbaldar na
vida...
Ou,
aliás, será que a vida é definida pelos picos de êxtase? Será que eu preciso de
uma tonelada de adrenalina para que tenha a impressão de ter vivido bem o meu
dia? Montanha russa, arranha-céu, a rasante no helicóptero, a escalada do Evereste,
a disputa de pênaltis, shoplifting, a
curva a 120 km por hora...
Quantos
dias você já perdeu na vida? Se é que já perdeu algum! Uma vez mesário nas
eleições? Duas ou três tentativas na prova do ENEM? Um dia inteiro tentando
marcar uma consulta? Uma semana inteira de cama? Três meses com a perna
engessada? Uma vez por ano fazendo a declaração do imposto de renda? Uma hora
por dia preso no engarrafamento? Oito horas por dia dormindo... Você está mesmo
vivo nessas horas?
Será
que a gente precisa viver cada dia diferente? Será que conta como vida viver o
mesmo dia várias vezes? Do mesmo jeito, nas mesmas condições, no mesmo lugar,
com as mesmas pessoas, respirando o mesmo ar, vendo o mesmo céu, fazendo as
mesmas coisas? E aí? A minha vida é o que eu faço ou deixo de fazer? A minha
vida são as pessoas com quem eu COM-VIVO? A minha vida é o que me dá prazer? A
minha vida é o que me dá sentido? Talvez sua resposta seja diferente da minha.
Afinal de contas, não somos a mesma pessoa, nem temos a mesma vida. Não sei
como você computa seu grau de satisfação com sua vida, com os dias que você está
vivendo. Qual é a sua unidade de contagem? O número de banhos que você toma por
dia? A quantidade de dinheiro que gasta ou ganha? O número de refeições?
Quantas vezes você faz sexo? Quanta gente nova você conhece? Quantas ordens
você dá? Quantos olhares de inveja você recebe? Tudo isso? Nada disso? Eu só
fico aqui imaginando...
Eu
não sou de Marte. Eu sei o que é respirar com prazer o ar que me mantém vivo. É
isso! As coisas simples é que conto no meu cômputo de satisfação com os meus
dias, com a minha vida. O arroz dormido que tiro da geladeira e esquento. O
suor da caminhada banal até o trabalho. O copo d’água frio e refrescante. Uma
ou duas pessoas que me olham todo dia como se eu fosse a pessoa mais importante
deste planeta. O esconderijo no qual me refugio para ficar a sós e apreciar,
devidamente, qualquer pequena surpresa que me faça o coração saltar. E como
salta o meu coração!
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