por Milton L. Torres
O
aniversário de um filho é a celebração da propagação da vida, que se alastra e
contagia a casa, a natureza, o mundo... É um reacender de esperanças, um alçar
voo para além do confinamento de dias corriqueiros e monótonos, cobrindo de
purpurina e brilho o que nos resta de nossos sonhos e aspirações. É a
oportunidade para interromper a corrida louca das horas para perceber que nossa
existência produz frutos que valem a pena semear, cuidar e colher.
O
aniversário de um filho é nossa elevação à condição de seres perenes, cujo
reflexo não desaparece no tempo, mas teima em reaparecer nos gestos banais, no
sorriso inesperado, no olhar, na fala, no andar e no jeito de encolher os
ombros ou esticar os braços. Quando essas coisas nos surpreendem, nós
compreendemos o segredo da vida e nos contentamos com os poucos anos que são
concedidos a cada geração, pois sabemos que, de uma forma ou outra, nossa
mortalidade encontra seu cumprimento no próprio amor que dedicamos aos gestos
banais, sorriso inesperado, olhar, fala, andar e jeito de encolher os ombros ou
esticar os braços daquele cujo aniversário festejamos com alegria tão grande
quanto a do nascimento...
Tente
imaginar a vida sem aniversários! Você terá que pensar na vida das criaturas de
Deus que não medem o tempo. Nem pássaros, nem cães, nem bois... só os seres
humanos comemoram o momento glorioso de sua passagem anual para situações mais
enigmáticas e desafiadoras, de sua iniciação à vida e aos mistérios do envelhecimento.
Ao mesmo tempo, só nós podemos sucumbir ao medo paralisante que nenhuma outra
criatura sente: o medo de que o tempo vá acabar! Mas não no dia do aniversário
de um filho. Nesse dia, não há medo. Nesse dia, não importa se passaremos ou
não, pois haverá alguém lá, alguém cuja contínua existência é mais importante e
preciosa para nós do que nossa própria sobrevivência e destino.
De fato,
no aniversário de um filho, perdemos todos os receios: de morrer de câncer, de
virar vegetais, de viver à pálida luz de uma enfermidade ou de não ter coragem
de viver a vida que desejamos. Não importa quão ocupados, quão cegos, quão
alienados, quão entediados, nesse dia, paramos e fazemos nossas preces.
Lançamos ao vento o punhado de areia que tínhamos na mão, apostando em uma
longa vida, com momentos de felicidade e fartas ocasiões em que poderemos
dizer: - Feliz aniversário, filho!
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