Monday, December 17, 2012

A Prática da Pedagogia Adventista em Sala de Aula

UNGLAUB, Eliel. A prática da pedagogia adventista em sala de aula: tornando a teoria uma realidade eficaz no ambiente escolar. Engenheiro Coelho: Paradigma, 2005. 142 p.




por Milton L. Torres



O livro de Unglaub é uma tentativa de aproximar teoria e prática dentro do escopo filosófico e metodológico da educação adventista. Ao buscar tal aproximação, Unglaub depende principalmente da teorização proposta recentemente pelo opúsculo Pedagogia adventista e, por isso, demonstra muitas das forças e fraquezas daquela obra. A vantagem da proposta de Unglaub é que esta tem uma predileção pelos aspectos práticos da obra educacional e, por essa razão, pode se tornar útil para muitos educadores que labutam na rede adventista de ensino, especialmente aqueles com pouca experiência.

Entre as deficiências do livro, talvez a que seja a mais grave seja a excessiva abrangência de suas sugestões. Unglaub tenta, de uma só vez, prover subsídios para atividades escolares que variam do jardim da infância (p. 74) à pós-graduação (p. 89). Essa é uma tarefa virtualmente impossível dada a dimensão modesta do livro. Daí advém a natureza freqüentemente superficial de sua abordagem. O livro também poderia ter contado com uma revisão mais cuidadosa, nele podendo ser ilustrados diversos tipos de equívocos gramaticais, desde descuidos de regência nominal, mau uso dos pronomes relativos e incorreções de concordância até barbarismos ortográficos, principalmente os de acentuação. A abordagem geral do livro tem pouco espaço para a sociologia e Unglaub parece, às vezes, falar de uma educação ideal que não se demonstra consciente de severas limitações amiúde enfrentadas pelos professores, mesmo em escolas adventistas, como, por exemplo, a existência de classes excessivamente grandes e a imposição de uma impiedosa carga horária sobre professores que se esforçam para dar conta de tal sobrecarga. Às vezes, tem-se a impressão de que o autor cometeu traducionismos. Assim, a seqüência “pense, faça, dupla, compartilhe” (p. 56) soa muito estranha, sendo que a palavra “dupla” pode, talvez, ser uma tradução equivocada da palavra pair (“formar duplas”) que provavelmente conste de sua fonte em inglês. Além disso, quando o autor tenta estabelecer a importância da pedagogia de projetos, a maioria de suas sugestões para projetos educativos carece de originalidade e, talvez por essas sugestões terem sido colhidas de projetos desenvolvidos por alunos da graduação, também pecam pela pouca interdisciplinaridade e a diminuta ênfase na integração de fé e ensino. Aliás, o livro conta com um bom capítulo escrito pelo Prof. Renato Stencel justamente sobre o tema da integração fé e ensino.

Entre as inúmeras virtudes do livro de Unglaub, destaca-se a compreensão sempre benéfica de que a metodologia pedagógica não é uma panacéia capaz de curar todas as dificuldades enfrentadas pelo professor em sala de aula (p. 129). Unglaub demonstra ser um educador experiente e com uma visão otimista da capacidade docente para o crescimento e a interação com os alunos (p. 128). Sua compreensão de verdade é bastante equilibrada (p. 99) e sempre aberta às diferenças de opinião. Seu esforço para recuperar, para a educação adventista, a importância do teatro e da dramatização pedagógica é louvável. Depois de várias décadas de preconceito e estigma no ambiente adventista, revigorou-me estudar um autor que acredita nessa forma de fazer educativo e, mais do que isso, várias vezes se refere à dramatização como importante recurso pedagógico (p. 69, 70, 88, entre outras). As tabelas que ilustram o livro são úteis quando sintetizam e sistematizam o pensamento do autor ou de suas fontes, mas, às vezes, tendem à superficialização do conteúdo tratado.

Apesar da dependência às vezes excessiva e desnecessária do livro Pedagogia adventista (afinal de contas, esta obra ainda está viva em nossa memória e disponível em nossas escolas), o livro de Unglaub me parece romper com um aspecto que considero desagradável naquela obra, a tendência de identificar os ideais da educação adventista com a estrutura do pensamento hebraico. Ora, se os hebreus nem sempre seguiram os ideais divinos quanto ao monoteísmo, à monogamia e à teocracia, por que supor que o tenham seguido nos aspectos educacionais? Afirmo que o modelo pedagógico a ser seguido pelos educadores adventistas é o de Jesus Cristo e este transcende qualquer cultura. Diferentemente daquela obra, nenhuma vez Unglaub se perde em elogios à cultura hebraica, mantendo seus olhos decididamente voltados para a sala de aula das instituições adventistas. Além disso, o autor entra em diálogo com um número considerável de teóricos adventistas e não-adventistas. Os educadores adventistas devem, portanto, acolher essa obra como mais uma boa tentativa de crescer em direção ao alvo da imitação, em sala de aula, dos métodos de Jesus.

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