Monday, December 17, 2012

Quality with Soul

BENNE, Robert. Quality with soul: how six premier colleges and universities keep faith with their religious traditions. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 2001.




por Milton L. Torres



A obra de Benne adota um ponto-de-vista otimista ao responder negativamente a uma indagação proposta, em 1998, por James Burtchaell: – este é o tempo do fim... do fim das faculdades e universidades cristãs? É verdade que as maiores e mais antigas universidades particulares anglófonas (como Harvard, Yale e Princeton) foram fundadas por iniciativa de religiosos e agora encontram-se inteiramente secularizadas, mas o autor recorre ao exemplo de seis universidades ou faculdades de primeira linha, nos Estados Unidos, que resistem às pressões para a secularização (Calvin College, Wheaton College, Universidade Baylor, Universidade Notre Dame, St. Olaf College e Universidade Valparaíso) para indicar que ainda é possível a manutenção da filosofia cristã de educação nas intituições de ensino superior. O autor repete, com veemência, a advertência feita por Mark Schwehn, em 1993, de que as artes liberais dependem do cultivo e da prática de certas virtudes (honestidade, humildade, diligência) que as sustentam e de que o enfraquecimento da religião seria, portanto, uma ameaça à própria educação.

Segundo Benne, três são as principais razões para a crescente secularização das universidades americanas: medo do rótulo de sectarismo, substituição dos princípios do Cristianismo pelas virtudes ético-cívicas e exclusão dos valores religiosos em favor dos ideais democráticos. Outras razões incluem fatores externos como as pressões do mercado educacional, o treinamento secularizante do corpo docente por causa do ateísmo metodológico dos cursos de pós-graduação e as pressões relativizantes da pós-modernidade, bem como fatores internos tais como a incapacidade teológica da instituição para estabelecer sua identidade e missão, e um sistema deficiente de prestação de contas à denominação. Para o autor, as tentativas de reação contra o secularismo por parte de várias instituições confessionais falharam em três âmbitos. Na esfera teológica, o combate à secularização com base na filosofia de Paul Tillich não foi eficaz porque, embora a teologia liberal deseje inicialmente revisar o Cristianismo clássico para torná-lo crível e persuasivo, acaba por suplantar o Cristianismo em favor de uma visão de mundo que lhe é rival. No âmbito acadêmico, a divisão da universidade em duas esferas, uma particular, sagrada e subjetiva e a outra pública, secular e objetiva, acabou por trazer descrédito ao modelo cristão de explicação da realidade. E, no âmbito da política de ação, protestos hostis tenderam a multiplicar inimigos sem conseguir promover os princípios do Cristianismo.

O estudo que Benne fez das seis instituições americanas bem sucedidas em manter seu caráter cristão (protestante, luterano ou católico) sugere que o caminho de volta só é possível se a vontade política de reversão ao modelo cristão permear os três componentes da tradição cristã que são relevantes na esfera pública: sua visão, seu ethos e as pessoas que dão consistência à visão e ao ethos, devendo envolver (a) uma liderança resoluta que inclua a Diretoria e um serviço de capelania de qualidade, (b) um planejamento minucioso com alvos realistas, (c) o envolvimento ativo do corpo docente por meio de um programa consolidado de integração fé e ensino, (d) medidas estratégicas que convençam a comunidade acadêmica do benefício da diversidade de vozes e do pluralismo intencional, isto é, da vantagem de se ouvir a perspectiva cristã na discussão dos mais variados temas, (e) de investimentos reais nessa direção, sejam estes feitos por meio de subvenções da denominação, doações de patronos com condições ou oriundos do orçamento da instituição, (f) o amplo uso de recursos musicais, (g) a valorização de figuras exemplares que sirvam de modelos para os jovens, (h) a obediência aos regulamentos internos como critério para a admissão de alunos e, mais importante, (i) a adoção da filosofia in loco parentis, isto é, professores, preceptores, administradores e funcionários precisam estar dispostos a agir e assumir responsabilidades como se fossem os pais dos alunos.

O livro, apesar de sua linguagem e postura intensamente conservadoras, consegue defender, sem antipatizar-se com as posições discordantes, a tese de que as instituições de ensino superior de origem cristã têm o direito de insistir que a voz do Cristianismo se faça ouvir, nelas, não importando o grau de secularização a que tenham sido submetidas. Daí sua referência à declaração de G. K. Chesterton: “uma tradição é uma democracia na qual os mortos votam.” O autor consegue evitar um tom intolerante e sua proposta é a adoção de um pluralismo intencional em que uma massa crítica de pessoas intensamente engajadas na promoção dos ideais cristãs promova a sustentação da instituição, abrindo, assim, espaço para simpatizantes do Cristianismo e para os que são indiferentes a ele. Sua tese quanto à política de contratação docente e admissão discente é de que se aqueles que são indiferentes à fé cristã forem superados na razão de dois por um, sua influência não será danosa para a faculdade e, ao contrário, contribuirão com uma perspectiva divergente mas passível de integração, o pluralismo intencional que enriquece e evita o incesto institucional. Benne consegue, portanto, ser provocativo em suas propostas e conservador em sua teologia, apresentando uma audaciosa proposta de reversão da secularização ora experimentada por inúmeras universidades e faculdades ditas cristãs.

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